Porbatata: a associação que defende a fileira da batata em Portugal
A Porbatata - Associação da Batata de Portugal nasceu oficialmente a 28 de setembro de 2016, com o objetivo de defender o setor. António Gomes, presidente da associação, em representação da Louricoop – Cooperativa de Apoio e Serviços do Concelho da Lourinhã, não tem dúvidas: «necessitamos de apoios para a constituição de OP’s de batata››. Neste trabalho fala ao Agronegócios dos desafios, das dificuldades da fileira e traça a radiografia do setor em Portugal.
António Gomes, presidente da direção da Porbatata, explica que a ideia de avançar com uma associação que defenda o setor da batata, «nasceu de algumas OP’s que faziam parte do consórcio da batata primor, por acharem que ninguém representa o setor a nível nacional e na União Europeia (UE), também sentimos a necessidade de promovermos a batata portuguesa junto dos consumidores portugueses e de promovermos a nossa primor no estrangeiro».
Promover a organização do setor da batata, ajudar as empresas a potenciar os seus negócios e o reforço aos mercados nacional e externo foram alguns dos objetivos estabelecidos pela associação.
Sobre o mercado nacional e o peso da fileira no setor agrícola, António Gomes refere que, em termos médios, nos últimos três anos, de 2013 a 2015, a batata nacional representou cerca de 3 % do valor médio global da produção vegetal registada nos últimos anos que foi superior a 3.650 milhões de euros», segundo dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), de 2016.
«Tão importante como a contribuição da fileira da batata portuguesa para o valor da produção vegetal total do país, é a importância da batata na base da alimentação dos portugueses», considera o responsável.
Segundo as Estatísticas Agrícolas de 2015, publicadas em 2016 pelo INE, recorda António Gomes, «a produção de batata em Portugal Continental, gerou um valor de 83 milhões 570 mil euros em 2015, muito similar ao valor obtido em 2014. O ano 2013, havia gerado um valor de 160 milhões de euros em que a batata portuguesa beneficiou da escassez de batata da campanha de 2012 devido às enormes perdas na colheita registada em alguns países europeus, devido à elevada precipitação que se verificou no princípio do outono de 2012, época da colheita nos principais países produtores de batata na Europa».
Em média, no período de 2013 a 2015, o valor da produção de batata nacional foi ligeiramente superior a 108 milhões de euros.
Evolução
O presidente da Porbatata afirma que a área de batata em Portugal «continua a registar uma ligeira tendência de descida, no mesmo sentido que se verifica desde há décadas, tendo atingido o valor mais baixo em 2015, com 24.622 hectares».
A média dos últimos cinco anos foi de 26 mil hectares, «com uma produção média de cerca de 470 mil toneladas (produtividade média de 18 t/ha). Realça-se o facto de se ter verificado nos últimos anos, uma subida da produtividade média de 14,7 t/ha em 2011 para 19,8 t/ha em 2015. A redução da área de produção de batata em sequeiro tem sido a grande responsável pelo aumento da produtividade média nacional».
Em 2015, «a área de batata de regadio atingiu 83% da área de batata no Continente, mais 2% do que se registou em 2013 e em 2014. A produtividade da área de sequeiro (3.763 ha no Continente) em 2015 foi de somente 8,2 t/ha, face às 21,4 t/ha verificada nos 19.022 ha de regadio no Continente. As NUTS II Centro e Norte, representam em conjunto a maior área de produção de batata em Portugal, com 72%.
Estas duas regiões, em conjunto, englobam 97% da área de batata de sequeiro em Portugal. Pela análise dos últimos cinco anos de produção, é a região Norte de Portugal que sofre redução de área de ano para ano que se compreende por ser a região do país com mais baixa produtividade (em média de 2013 a 2015, abaixo das 14 t/ha)».
Esta situação, salienta António Gomes, «torna a cultura inviável economicamente nesta região, só se justificando a sua produção por se destinar em boa parte ao autoconsumo das famílias e/ou por questões de tradição e gosto pelo cultivo. Destacam-se também as duas NUTS II, Área Metropolitana de Lisboa e Alentejo, as quais em conjunto em 2015, representaram 19% da área nacional e mais de 30% da produção total (produtividade média de 32 t/ha). É de facto nestas duas regiões que a produção de batata está mais dinâmica e a caminhar para uma maior competitividade, face a outros países da UE, com recurso a mais investimento em tecnologia de regadio e de equipamentos de plantação, proteção e colheita. As regiões autónomas da Madeira e Açores representam em conjunto cerca de 7% da área nacional e contribuem com 10% da produção nacional».
O presidente da Porbatata revela que a batata nacional nos últimos anos «destinou-se em cerca de 90 % ao consumo interno e a quantidade restante é exportada (na primavera e início do verão). No mercado interno, a maioria da quantidade destina-se ao mercado de fresco, desde circuitos diretos do produtor ao consumidor até circuitos mais longos que em alguns casos, poderão incluir um período de conservação em frio. Uma parte considerável da batata nacional também tem como destino as fábricas de batata frita e as unidades de 4ª gama (quantidades não disponíveis e/ou não publicadas)».
A nível de consumo, segundo os dados do INE, «o consumo per capita tem-se mantido em cerca de 90 kg/ano (nota: este indicador não discrimina a parte de consumo da batata em fresco e o consumo de batata processada; segundo os dados do GPP do consumo aparente em Portugal, a quantidade per capita é inferior a 80 kg/ano). Convém referir que para o cálculo desta capitação, está incluída a importação de batata, pois a produção nacional representa pouco mais de 50 % do grau de autoaprovisionamento em Portugal».
Exportação
A nível da exportação, a batata portuguesa «conseguiu um valor de cerca de 17,5 milhões de euros em 2014 (INE, 2016), o que representou cerca de 8 % de contributo nas exportações de produtos hortícolas, raízes e tubérculos comestíveis», sublinha António Gomes, sendo que os principais destinos da batata portuguesa são Espanha, Alemanha, Holanda, Cabo Verde, França, Bélgica e Luxemburgo.
«Por razões de custos de transporte, a exportação é mais fácil para os países que estejam mais próximos. Para países mais distantes, só se poderá justificar pela existência de programas ou contratos de exportação específicos em termos de: variedades, relações preferenciais entre empresas, tipo de embalagem, calibres, etc.», acrescenta António Gomes.
Questionado pela AGROTEC sobre quais as dificuldades das empresas na internacionalização, o responsável da Porbatata refere que as maiores dificuldades no comércio internacional «tem a ver com o facto de a batata ser um produto que é comercializado em natureza, o que significa que não é submetida a operações de processamento que lhe acrescentem valor ou características diferenciadoras de modo a que possa obter uma valorização adicional, ou que gere nos potenciais clientes o preenchimento de uma necessidade específica que não lhes possa ser satisfeita por batata de outra origem».
De um modo geral, «a batata portuguesa que é exportada, é expedida diretamente do campo onde é produzida, imediatamente após a sua colheita ou então, no caso de alguns operadores, é levada à central para ser devidamente selecionada e calibrada, de modo, a dar resposta aos requisitos dos seus clientes. Neste enquadramento a batata nacional, é disponibilizada no mercado numa época em que tem de competir com a batata produzida em outros países do Sul da Europa e na orla do Mediterrâneo – Espanha, Itália, Chipre e Malta, além da batata proveniente de Israel e do Egito. Deste modo, é difícil garantir uma regularidade de preço de ano para ano, porque o preço da exportação é ditado pelas leis da oferta e da procura, o que tornou a exportação inviável economicamente em algumas campanhas anteriores».
A maioria dos países que compram a batata portuguesa «reconhecem em geral a sua qualidade organolética, assim como a sua textura (especialmente em variedades de polpa firme, destinadas ao segmento de salada) e a qualidade da epiderme da batata portuguesa – lisa e com brilho, apreciada quando a batata se destina a ser lavada para fornecimento a cadeias de retalhistas».
António Gomes recorda que, nas últimas campanhas, «agravou-se a situação da exportação de batata portuguesa, devido à problemática relacionada com a existência de zonas demarcadas em Portugal, devido à presença do Epitrix».
Para o responsável a exportação de batata portuguesa «precisa de uma comunicação transversal que possa beneficiar a sua imagem e que possa salientar as qualidades intrínsecas e extrínsecas da batata nacional e que deste modo, se possa relançar a exportação de modo a que se possa tirar partido da precocidade de algumas regiões de Portugal, sobretudo, as localizadas junto ao litoral». Por outro lado, «além da comunicação, a batata nacional necessita de ser defendida especialmente na estratégia de luta contra o Epitrix e na sua gestão que seja aceite pelos países alvo, de modo que este organismo prejudicial, não destrua a continuidade da exportação da batata nacional».
Mercado interno
A nível interno, uma das maiores dificuldades «é a falta de competitividade da produção nacional, na maioria da área em Portugal, o que facilita o processo de importação a partir de Espanha e França, países com produtividades médias na ordem das 40 t/ha e deste modo, podem “invadir” Portugal com batata a preço mais baixo, do que o custo médio real da produção em Portugal».
Para António Gomes, «o mercado livre sem fronteiras é uma realidade difícil, ou melhor, impossível de anular, pelo que os grandes desafios da produção nacional passam pelo ganho de competitividade, através do aumento da produtividade pela necessidade de adoção das melhores práticas de produção possíveis em cada região (exemplo, recurso ao regadio), escolha das variedades melhor adaptadas em termos de condições de solo e de clima e que permitam maiores produtividades e que correspondam perfeitamente às exigências dos clientes».
E não tem dúvidas: «é necessário importar menos batata, melhorando o grau de autoaprovisionamento, promovendo o consumo e a justa valorização da batata nacional – pode-se conseguir com o esforço conjunto dos vários intervenientes na fileira da batata em Portugal, com atuação em várias vias – desenvolvimento tecnológico, utilização das variedades mais produtivas e adequadas ao mercado, comunicação dos benefícios aportados pela batata nacional (criação de emprego, menor dependência alimentar do exterior, ativação da economia a nível regional e nacional, porque a fileira da batata consome fatores produtivos de outros setores da economia) e na sua essência, defender o que é nacional!».
Já no que respeita ao plano fitossanitário, atualmente, o Epitrix é a praga que mais está a afetar a produção da batata nacional, especialmente, «pela barreira que está a gerar, em relação à anulação ou impedimento da realização de programas de exportação para alguns países europeus que só aceitam receber batata nacional produzida fora das zonas demarcadas com a presença de Epitrix».
«O escaravelho é uma praga que é considerada pelos produtores de batata, em geral, como de fácil controlo, porém, e até porque a maioria dos insecticidas utilizados para o seu controlo, tem ação sobre o Epitrix, é necessário dar atenção às substâncias ativas que se devem utilizar em cada momento, devido ao risco para as abelhas, sobretudo nas épocas de floração em que estas estão mais ativas», explica o presidente da Porbatata.
«Em anos relativamente secos e quentes como se tem verificado em 2016 (de meados de maio a final de outubro), houve condições propícias para a traça que conseguiu completar várias gerações e que poderá eventualmente ser nefasto para a próxima campanha, pela quantidade de ovos que possam ter iniciado a hibernação. O míldio, é um inimigo do cultivo da batata que obriga a uma prática fitossanitária exigente e evolutiva na utilização de produtos fitofarmacêuticos adequados nas doses e nas épocas de aplicação, assim como no respeito do número máximo de aplicações por produto, tal como na melhor prática a seguir para evitar o desencadear de mecanismos de resistência às substâncias ativas fungicidas, por parte do míldio da batateira», acrescenta.
Atualmente tem de ser considerar outras doenças que pela sua sintomatologia, podem depreciar ou inviabilizar a comercialização da batata – a rizoctónia e a sarna pulverulenta – têm ambas, origem na infecção por fungos.
Em algumas regiões do país, a sarna comum, «provocada por uma bactéria, ainda continua a ser um problema, especialmente quando se utilizam variedades com sensibilidade a esta doença que deprecia a apresentação comercial da batata e que em alguns casos, a sintomatologia pode afetar a polpa da batata, em profundidade», vinca António Gomes.
Batata de conservação versus batata de semente
«Portugal é um país importador de batata. Devido ao relativamente baixo grau de autoaprovisionamento, causado pelo abandono da produção por parte dos agricultores (redução de praticamente da área cultivada a metade, desde o ano 2000) por falta de competitividade, Portugal importou mais de 350 mil toneladas de batata de conservação por ano em média, nos últimos 5 anos (em 2014, segundo o INE, representou um valor de quase 70 milhões de euros – temos aqui um importante deficit na balança comercial entre importação e exportação)», começa por dizer António Gomes sobre o peso da batata de conservação.
Já no que respeita à batata de semente «também constitui um fator de produção importado que em 2014 (INE, 2016) registou um valor superior a 21 milhões de euros, correspondente a quase 44 mil toneladas».
António Gomes diz que, hoje, «o produtor quando instala um campo com batata, tem de saber qual o destino possível para a sua futura produção, seja para mercado nacional ou exportação, mercado de fresco ou indústria. Pelo destino da produção, já tem de haver uma prévia seleção das variedades possíveis de produzir e/ou aceites pelo(s) cliente(s). Por outro lado, o produtor tem de escolher a variedade pelo seu potencial produtivo, incluindo logicamente a resistência e/ou tolerância dessa mesma variedade às principais doenças e eventuais dificuldades que se possam prever nas suas condições de cultivo (ex., zona ventosa)».
Sobre os apoios, o setor da batata «nunca recebe apoios, mas também raramente alguém os solicita. Este setor está completamente desprotegido e é alvo fácil dos nossos concorrentes estrangeiros. Como não temos qualquer organização, é muito fácil entrar batata de baixa qualidade, a baixo preço e concorrer com a nacional. Necessitamos de apoios para a organização, não apenas da fileira, mas especialmente da produção, necessitamos de apoios para a constituição de OP’s de batata».
A Porbatata
A Porbatata tem 26 organizações associadas e tem como objetivo ter 50 associados até ao final do ano. «Ficou definido na Assembleia Geral de constituição que todos os associados que aderissem até ao final do ano de 2016, seriam fundadores e teriam o benefício de não pagarem a joia de inscrição».
O Plano de Atividades para 2017 será definido na Assembleia Geral da associação que decorre a 15 de dezembro no Auditório do Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira, na Lourinhã, cidade onde está sedeada a Porbatata.
«No entanto queremos desenvolver um conjunto de iniciativas: de promoção da batata portuguesa em território nacional e no estrangeiro; de diálogo dentro do setor por forma a promovermos a sua coesão; de diálogo com o governo português e no seio da União Europeia; de debate entre os técnicos do setor por forma a encontrarem soluções para alguns do problemas fitossanitários que afetam a cultura».
Por fim, António Gomes elenca os desafios da fileira para os próximos anos: «combater o abandono e consequente redução da produção nacional, geradora de incremento das importações; criar estratégia conjunta entre vários operadores na fileira em Portugal, de modo, a valorizar a batata nacional – diversas ferramentas de comunicação; tornar a cultura da batata rentável e com menores flutuações de preços entre diferentes campanhas, para se manter uma constância nas áreas em produção; pensar na sustentabilidade da produção com recurso a estratégias culturais de luta às principais pragas e doenças, sendo uma possível fonte de diferenciação que deverá ser devidamente comunicada a nível nacional e internacional; devolver à batata nacional, a sua verdadeira importância, enquanto alimento base da nutrição humana à escala mundial, distinguindo a batata enquanto produto nobre, tal como se conseguiu com outros produtos – exemplos: pão, vinho, azeite, pera rocha, maçã de Alcobaça, etc.».