O Regadio - A incerteza e a gestão da água

Tudo na Terra é afetado pelo tempo meteorológico. Ele ajuda a dar forma às nossas paisagens e providencia as nossas reservas alimentares. Condições climáticas extremas podem originar tempestades que destroem casas e outras infraestruturas, bem como inundações que fertilizam os solos, destroem campos agrícolas e efetuam a recarga de aquíferos ou secas que dificultam e arruínam colheitas. É muito difícil prever o tempo meteorológico, que pode ser muito diverso num mesmo local.

Regadio

Por: Cláudia Brandão, Chefe da Divisão de Infraestruturas Hidráulicas da Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR)

As precipitações (chuva, neve ou granizo) têm a maior importância na produção dos alimentos. Quando há chuva em abundância, as culturas desenvolvem e proporcionam excelentes produções e os animais dispõem da água necessária ao seu normal desenvolvimento. Mas, se não chove por algum tempo, os efeitos podem ser desastrosos. O solo pode ficar ressequido e as culturas podem entrar em stress hídrico, secar ou morrer. Se tal sucede, os animais de pastagem não dispõem de alimento suficiente, as reservas de água entram em depleção e esgotam-se.

Para agravar esta situação, a temperatura da Terra está a aumentar, havendo a discussão entre os cientistas sobre se este aquecimento é causado pelos Gases com Efeito de Estufa (GEE) ou por quaisquer outras causas. Um dos fatores chave no efeito de estufa é o dióxido de carbono, que retém o calor na atmosfera terrestre.

Através da fotossíntese, são absorvidos biliões de toneladas de dióxido de carbono e produzido o oxigénio necessário à sobrevivência dos seres vivos. No entanto, devido à poluição, à desflorestação e à queima progressiva de combustíveis fósseis (carvão, gás e petróleo) o nível de dióxido de carbono na atmosfera tem aumentado, provocando uma mudança no ambiente e forçando uma alteração do modo de vida das sociedades.

A incerteza

A agricultura está dependente de inúmeros aspetos, que conferem a esta atividade humana uma incerteza. Esta resulta: a) da variabilidade natural do processo ou da aleatoriedade das variáveis edafoclimáticas, no tempo ou no espaço; b) do conhecimento insuficiente e incompleto ou epistémico das práticas agronómicas, dos fatores de produção e das pragas e doenças e dos comportamentos socioeconómicos, entre outros.

O regadio é uma técnica utilizada na agricultura que tem, por objetivo, o fornecimento controlado de água para as plantas em quantidade suficiente e no momento certo, assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação. Portanto, complementa a precipitação natural.

O regadio atual, essencial em Portugal para as culturas de primavera/verão, exige um serviço de fornecimento de água com garantias de serviço, isto é, fornecer água quando necessário e, simultaneamente, regar as culturas apenas na altura temporal e quantidade adequadas às fases fenológicas das culturas, que depende dos seres vivos e das suas relações com as condições do ambiente (incerteza biológica relacionada com o ciclo de desenvolvimento das culturas).

Neste contexto, o regadio permite reduzir a incerteza relacionada com a variabilidade climática, pois permite fornecer água às culturas quando elas, naturalmente, estariam em situação de défice hídrico (incertezas meteorológicas). É, pois, essencial que o regadio seja suportado pelos registos meteorológicos provenientes de estações de monitorização terrestre, que constituem uma base de dados essencial para caracterizar o tempo histórico, o momento presente e efetuar previsões meteorológicas científicas, recorrendo a modelos matemáticos para vários prazos temporais e na nossa região.

Atualmente, as previsões a curto e médio prazos (dez dias) já estão associadas a graus de confiança elevados e, por isso, poderão suportar uma gestão da água para a rega adequada às culturas e às condições climáticas.

O regadio contribui para diminuir a incerteza da agricultura (fornece água às culturas quando estas necessitam) mas exige, igualmente, uma gestão das disponibilidades hídricas para realizar esta prática cultural, que está condicionada a decisões, mais ou menos explícitas, fortemente influenciadas por outras incertezas, relacionadas com outros setores económicos e a preservação dos ecossistemas, salvaguardando os recursos naturais existentes como a água, o solo e a biodiversidade.

Assim sendo, as incertezas hidrológicas influenciam a gestão da água e são determinantes para a segurança hídrica, isto é, para o nível da garantia do regadio, que resulta do equilíbrio entre as disponibilidades de água existente, em quantidade e qualidade, e as necessidades de água para as culturas e serviços dos ecossistemas (provisionamento, regulação e culturais).

Devido a estas incertezas, a garantia de abastecimento de água às populações e às atividades económicas exigiram o desenvolvimento de técnicas e de critérios de dimensionamento adequados para atenuar a incerteza e evitar os prejuízos associados (consequências potenciais adversas).

Complementarmente, a água, como recurso natural, está associada a ocorrências com elevada variabilidade temporal e espacial (combinação entre eventos extremos e “normais”). As incertezas prospectivas estão sempre presentes na definição e caracterização de cenários atuais e futuros (incluindo as mudanças climáticas).

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 34

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