Fotolivro "Oil Dorado": o retrato de um Alentejo desfigurado pelas monoculturas intensivas

Ao longo de quatro anos, num Alentejo descaracterizado pelas monoculturas intensivas e superintensivas de olival e amendoal, o geógrafo e fotógrafo André Paxiuta desenvolveu o projecto Oil Dorado. «Hoje, a homogeneidade de culturas domina numa região que está, em mais de 70%, na mão de grupos estrangeiros. Sem respeito pela paisagem ou tradição dos locais, os custos para a região são imensos.»

«Qualquer pessoa que conheça minimamente o território alentejano percebe que, de há vários anos a esta parte, a paisagem se alterou de forma abismal.» Hoje, refere o fotógrafo e geógrafo André Paxiuta em entrevista ao P3, as culturas intensivas e superintensivas de olival e amendoal imperam sobre todas as outras. «Antes existia grande variedade de culturas de sequeiro e de prados. Hoje, a homogeneidade de culturas domina numa região que está, em mais de 70%, na mão de grupos estrangeiros. Sem respeito pela paisagem ou tradição dos locais, os custos para a região são imensos.» E é sobre esses custos que versa o projecto Oil Dorado, com enfoque no olival, que procura financiamento para a sua materialização em formato de fotolivro na plataforma de crowdfunding IndieGogo.

O projecto de Paxiuta descreve "a mutação silenciosa" do "território prometido do Alqueva". «Regado a partir do maior lago artificial da Europa, onde crescem oliveiras aos milhares, azeitonas aos milhões, enriquecem-se pioneiros e abrilhanta-se o orgulho da nação", pode ler-se na introdução do livro. "Na sombra desta corrida, encontrei a morte anunciada da paisagem alentejana que um dia conheci.»

Num ano excepcional para a produção de azeite – a maior produção da história do país devido à rentabilidade dos olivais superintensivos plantados a sul do Tejo, que são geridos, em 65%, por seis grupos financeiros estrangeiros ou luso-estrangeiros – «faz sentido olhar atentamente para o que está a acontecer». «Visto de longe, um olival acabado de plantar parece um cemitério americano», observa Paxiuta. «Ele domina o manto de verde em quilómetros e quilómetros até perder de vista. Esta é a nova realidade no Alentejo, sobretudo em Beja, Serpa, Moura, Ferreira do Alentejo.»

A monocultura de olival no baixo Alentejo, alavancada pela construção da barragem do Alqueva e pelos inúmeros fundos europeus destinados a este tipo de negócio, produziu mudanças também ao nível demográfico. Mas não da forma que seria desejável. “Os censos de 2020 foram claros”, refere o geógrafo. «O desenvolvimento do Alentejo que se seguiu à construção da Barragem do Alqueva não contribuiu para a fixação da população na região.» Contribuiu, sim, para a importação de mão-de-obra. «O interior de Portugal está desprovido de população activa para trabalhar no campo», argumenta o fotógrafo lisboeta. «Os portugueses não querem realizar esses trabalhos porque os salários são muito baixos, as jornadas de trabalho são muito longas e duras e não querem submeter-se a estas novas formas de escravatura.»

Qual a factura a pagar, no futuro, pela “revolução” em curso no Alentejo? “Estamos a falar de culturas intensivas que dependem grandemente do consumo de água”, realça o fotógrafo. «Existe um ponto de interrogação sobre a sua escassez no futuro, o que poderá colocar em causa a sua sustentabilidade.» Paxiuta acredita que a presente corrida ao “oil dorado” deixará marcas permanentes na região. «Poderá levar ao esvaziamento da riqueza ambiental e cultural do território (...) e ao colapso dos sistemas que o suportam.»

Leia o artigo na íntegra aqui. 

A campanha crowdfunding para a publicação do livro "Oil Dorado" já está a decorrer. Conheça o projeto aqui.

Fonte: P3 

Imagem: Andre Paxiuta

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