Inovação como pilar da sustentabilidade vitivinícola Vila Real – Jornadas sobre a Sustentabilidade da Fileira Vitivinícola

Artigo Técnico

Por: Patrícia Posse (texto e fotos)

Perante o surgimento dos países que integram o Novo Mundo Vitivinícola (como a África do Sul ou a Nova Zelândia, por exemplo), o posicionamento de Portugal no mundo da vinha e do vinho requer uma atitude empresarial mais competitiva. As instituições de Ensino Superior podem ser parceiras nesse processo, como se procurou demonstrar nas Jornadas sobre a Sustentabilidade da Fileira Vitivinícola, promovidas na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

“O objectivo principal é debater com o sector empresarial os problemas do sector vitivinícola e tentarmos saber o que é que, em termos de centro de investigação, podemos desenvolver. É perceber o que é que eles precisam, as dificuldades que têm, o que gostariam que a universidade desenvolvesse”, refere a docente Ana Oliveira, também responsável pela organização das jornadas. O evento contou com uma assistência de 164 participantes, entre estudantes (cerca de 30%), docentes, empresários e público em geral.

Ao traçar o retrato do sector vitivinícola do País, Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), destacou que “se tem vindo a reconverter, tem aumentado a sua competitividade e as suas exportações e tem melhorado muito do ponto de vista tecnológico, quer ao nível da fabricação do vinho, quer da própria implementação das vinhas”. “Hoje em dia, em todos os negócios, há uma evolução constante e não podemos deixar de acompanhar as tendências de mercado, de evoluir com os consumidores e aceitar os desafios, de estar sempre na frente”, acrescentou. Nesse sentido, é fundamental uma estreita ligação do sector produtivo com as instituições de Ensino Superior, porque “para se ser inovador é preciso acompanhar as novidades da ciência e isso é nas universidades”.

Por outro lado, a principal fragilidade do sector vitivinícola português reside na pequena dimensão de muitos dos produtores. “Quando queremos exportar, a dimensão é extremamente importante”, salienta Luís Mira. Face a esse contexto, importa que os pequenos produtores continuem apostados em “vinhos de alta qualidade”, pois “o modelo cooperativo (na maioria dos casos) não deixou grandes saudades aos viticultores”.

Para o representante da CAP, a sustentabilidade da fileira tem de assentar na alteração de algumas das práticas que são feitas na vinha “de forma a torná-las mais próximas do ambiente”, na capacidade produtiva e na qualidade dos vinhos que permitirá “olhar com alguma esperança para o futuro das exportações e da produção de vinho em Portugal”.

Durante as jornadas, discutiu-se ainda a presença dos vinhos nos mercados, com especial incidência na complexidade da informação do rótulo e na análise da imagem, as alterações climáticas e a biodiversidade, alertando para a necessidade de estudar as melhores opções de instalação e manutenção da vinha. “Nos últimos tempos, temos sentido uma grande necessidade por parte do mercado de arranjar soluções que permitam aplicações de maior sustentabilidade sem o uso de tantos agroquímicos”, referiu Pedro Sampaio, que trabalha no sector dos agro-têxteis. Tem aumentado a procura de telas anti-granizo e anti-pássaro assim como rede de sombra para protecção das radiações solares que, hoje em dia, são problemáticas em algumas zonas do país. “Estamos a mostrar a utilização de telas de cobertura de solo que permitem a eliminação dos herbicidas e ainda tem vantagens em termos de gestão de rega e do incremento do vigor das plantas”, sublinhou Pedro Sampaio.

p108 fig1

Há cada vez mais vitivinicultores que certificam os seus lagares de azeite e que, em paralelo com os vinhos, produzem azeites. Esta associação entre o olival e a vinha é favorecida pelas condições climáticas da região mediterrânica. Por isso, o evento debruçou-se sobre o património olivícola, defendendo “o devido respeito” pela valorização de subprodutos, que desde a produção ao destino final, “deverão diminuir o impacto negativo na saúde humana e no ambiente”.

E como “a prática prova a teoria”, o programa incluiu uma prova de 40 azeites, oriundos de Trás-os-Montes, da Beira Interior, do Ribatejo e do Alentejo, acompanhada de produtos tradicionais DOP (Denominação de Origem Protegida) e IGP (Indicação Geográfica Protegida). A fechar o evento, espaço ainda para uma prova de vinhos das regiões de Trás-os-Montes, Douro, Dão, Bairrada e Alentejo, num total de 150 marcas representadas

Impulso do enoturismo

No Portugal vitivinícola de hoje, importa avalizar as diferentes tomadas de decisão para o sucesso do sector, mas também considerar o importante contributo do enoturismo.

“O Douro começa a ser cada vez mais procurado pela sua paisagem e os novos enólogos têm tido um cuidado extra nas suas propriedades. Isto é interessante e importante para termos não só vinho e azeite como um turismo que venha apreciar todo o nosso trabalho anual”, destacou Luís Barros, proprietário da Enoteca Douro, um museu interactivo dedicado à história e cultura da vinha e do vinho na região duriense.

Este empresário trabalha directamente com o agricultor, o produtor engarrafador e com o turista, que é o consumidor final dos vinhos, e lamenta a falta de promoção dos produtos. “Não temos imagem. Precisamos de pôr a nossa bandeira em todos os nossos produtos. Falta a marca «Portugal» e, logo em baixo, «Douro, conheça as suas gentes».”

Luís Barros elogia “o gosto pelo imobilizado” da nova vaga de produtores e considera-o como uma mais-valia “num futuro muito próximo”. “O novo viticultor vai cuidar da vinha mediante as suas necessidades específicas e do seu espaço envolvente. Vai ter mais gosto em todo o território e não só na videira, o que é importante na área do turismo.”

A Enoteca Douro foi distinguida com o galardão “Best of Wine Turism” e recebeu uma menção honrosa pela iniciativa de Empreendedorismo de Desenvolvimento Local. Por semana, recebe 600 turistas que “não vêm especificamente ao Douro, mas sim a Portugal”.

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip