Estévia: Uma revolução natural

A estévia (planta sul americana com elevado poder adoçante) começou a ser consumida no Japão há cerca de 40 anos como alternativa adoçante, tendo vindo a conquistar mercados. Embora se possa considerar uma moda, a estévia tem-se mostrado como adoçante 100% seguro e provavelmente a maior ameaça ao consumo de açúcar.

Estévia

Por: Paulo Rodrigues

Trata-se de uma planta cuja aclimatação já tem vindo a ser feita em Portugal. Isto tem sido realizado, com algum sucesso, na Região Centro e Sul, onde haja calor e possibilidade de regadio, tendo-se adaptado muito bem a regiões angolanas do planalto central, perspetivando-se a possibilidade de se expandir como cultura industrial nestas regiões.

Apesar de os problemas de saúde imputados ao consumo excessivo de açúcar (sacarose), este não tem parado de aumentar continuamente. Por outro lado, os adoçantes de origem artificial não conseguiram ser alternativa, por não darem a mesma sensação de doçura e, desde há já quase duas décadas, serem apontados como provável causa de diversas doenças metabólicas, incluindo o cancro, razão para serem desde então encarados com grande desconfiança, havendo alguns que já começaram a ser retirados do mercado em alguns países.

Porém, a grande fatia do mercado de edulcorantes está na indústria de produtos preparados, desde a pastelaria aos refrigerantes, de modo que, mesmo involuntariamente, estão no nosso dia-a-dia.

Várias empresas de refrigerantes, como a Compal e a Lipton, têm, nos últimos anos, substituído o açúcar e os edulcorantes das suas fórmulas pelos extratos de estévia. Porém, o grande impulso mundial em favor da estévia proveio das rivais Coca-Cola e Pepsi-Cola, protagonizando mais uma linha na história de rivalidade, fazendo sair a Coca- Cola Life e a Pepsi Next com menos de um mês de intervalo e adotando, ambas, a mesma imagem verde nos seus rótulos.

O aparecimento de problemas nutricionais/médicos, como a obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares, devido ao aumento do consumo de açúcar, levou à procura de substitutos menos calóricos por parte da indústria alimentar (Periche, Castelló, Heredia, & Escriche, 2015; Puri, Sharma, & Tiwari, 2011).

Atualmente, os adoçantes sintéticos ocupam a maior parte do mercado, como, por exemplo, o aspartame, neotame, sacarina e o sucralose mas, devido a estes compostos não darem um sabor real de açúcar e representarem um potencial risco de cancro (associado ao uso intensivo de sacarina) e não serem recomendados a pessoas com doenças metabólicas (associado ao aspartame), os compostos adoçantes e pouco calóricos disponíveis na natureza começaram a despertar interesse (Puri et al., 2011).

A Stevia rebaudiana (família das Asteraceae) é um dos 154 membros do género Estévia. Esta planta é nativa do Paraguai, onde as folhas de estévia foram usadas como adoçante durante séculos pelas tribos indígenas da América do Sul sendo que o poder adoçante se deve à presença de compostos ativos conhecidos como glicosideos de esteviol (Madan, Ahmad, & Singh, 2010).

Estes compostos são um novo tipo de adoçante natural, os quais contêm vários glicosídeos diterpenos, como rebaudiosideo A, esteviosideo, rebaudiosideo C e dulcosideo A, sendo o esteviosideo e o rabaudiosideo A os glicosideos de esteviol maioritários em Stevia rebaudiana. (Ba, Zhang, Yao, Ma, & Wang, 2014; Khalil, Zamir, & Ahmad, 2014; Periche et al., 2015).

Estudos efetuados sobre os glicosídeos de esteviol demonstraram que estes não são absorvidos pelos seres humanos, não são genotóxicos ou cancerígenos e não provocam qualquer toxicidade reprodutiva ou de desenvolvimento (Brusick, 2008; Pawar, Krynitsky, & Rader, 2013).

Os glicosídeos de esteviol têm inúmeras aplicações na indústria alimentar e farmacêutica, devido ao seu baixo teor calórico, ao seu poder adoçante (o esteviosideo é 300 vezes mais doce do que a sacarose disponível comercialmente), alta estabilidade e várias atividades biológicas. E o uso de estévia como adoçante está a ser utilizado à escala industrial por grandes corporações da área alimentar (Puri et al., 2011; Ba et al., 2014; Khalil et al., 2014).

No que toca aos procedimentos para a extração destes compostos das folhas de estévia, foram feitos alguns estudos onde se comparou metodologias convencionais e novas metodologias biotecnológicas.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 14

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