Conferência FFA2021 - o futuro da agricultura na UE depende da confiança dos políticos na Ciência

A edição regional do FFA2021- “Fórum para o Futuro da Agricultura” reuniu ontem, 26 de Maio, em Santarém um painel de oradores de alto nível num debate sobre a Renovação do Sistema Alimentar. O evento, realizado em formato híbrido, foi transmitido online para centenas de espectadores através da plataforma digital do Fórum.

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O dia começou com a intervenção entusiasta do Presidente da FFA2021, Janez  Potočnik, que apelou à ação urgente afirmando: «É mais do que tempo de as comunidades globais e locais cumprirem as promessas que fizeram sobre sustentabilidade. Quer se trate do acesso à água, de acordos internacionais de comércio ou de alterações climáticas». O antigo Comissário sublinhou que ainda há tempo para evitar os piores efeitos das alterações climáticas, desde que nos unamos.

António Paula Soares, presidente da ANPC - Associação Nacional de Proprietários Rurais, Gestão Cinegética e Biodiversidade, na sessão de abertura, destacou que «a renovação do sistema alimentar implica um “compromisso entre os três pilares da sustentabilidade – ambiental, económico e social – e em que todos saiam a ganhar”. 

 A primeira sessão destacou a importância do uso sustentável da água, de tecnologias que permitam poupar água e como podem ser colocadas à disposição dos agricultores, garantindo que têm acesso a conhecimento e que usam as práticas adequadas para as aplicar.

 Thierry de l'Escaille, Secretário-Geral da European Landowners’ Organization, falou da importância de dotar os agricultores de instrumentos adequados para a gestão das terras agrícolas e de como os agricultores podem ser apoiados na transição verde. «A nossa ambição é mostrar que os agricultores são parte da solução e querem gerir a biodiversidade. Teremos que sensibilizar os políticos sobre o poder das parcerias».

 Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação de Agricultores de Portugal, sublinhou o papel vital da água na agricultura do Sul da Europa e a necessidade de investimento em infraestruturas de armazenamento. «A água é uma arma no combate às alterações climáticas, e, por isso, precisamos de ter instrumentos para a armazenar e usá-la no período em que a agressividade climática toma o seu expoente máximo».

Em representação da WWF Portugal, Afonso do Ó apelou à gestão preventiva da água, que deve assegurar serviços de ecossistemas, e disse serem prioritárias medidas para uso eficiente, reutilização e reciclagem da água. «Temos que quebrar a barreira entre ambientalistas e agricultores. É necessário estabelecer pontes e um diálogo entre todos para uma melhor gestão da água na agricultura».

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Indo além da sustentabilidade ao nível da parcela agrícola, a segunda sessão analisou como aumentar as normas de sustentabilidade nos acordos de comércio europeus e globais, a responsabilidade dos setores público e privado na aplicação de parâmetros de sustentabilidade e o papel das empresas e das ONGs no comércio sustentável.

Emily Rees, responsável do European Centre for International Political Economy (ECIPE), disse que «os atuais acordos de comércio são a primeira arma da UE no que se refere à sustentabilidade, uma oportunidade única para dar mais visibilidade à Estratégia do Prado ao Prato e ao Pacto Ecológico Europeu».

João Rui Ferreira, secretário-geral da C.E. Liège, deu o exemplo do setor da cortiça, cujas exportações ultrapassaram os mil milhões de euros, como um dos mais alinhados com as metas ecológicas da UE. «O sobreiro retém carbono, é uma espécie muito bem adaptada às alterações climáticas, fixa pessoas no território e gera riqueza. Por cada euro de cortiça exportada 0,85€ ficam na economia local». A este propósito Bruno Bobone, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, sublinhou que Portugal precisa de «investir em maior capacidade produtiva e reforçar a internacionalização da agricultura».

A sessão da manhã encerrou com a intervenção de António Gonçalves Ferreira, presidente da UNAC- União da Floresta Mediterrânica, alertando que «o Pacto Ecológico Europeu e a Estratégia de Biodiversidade são boas iniciativas, mas vão ferir de morte a agricultura da UE se não alterarmos os métodos para as atingir».

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Da parte da tarde decorreu um Workshop de Soluções sobre o papel das Novas Técnicas Genómicas (NTG) na agricultura e na obtenção e melhoramento de plantas. A primeira parte do debate centrou-se na forma como as NTG podem ajudar os agricultores a cumprir as metas da Estratégia do Prado ao Prato da UE. Na segunda parte foi debatido o potencial das NTG como instrumento para combater as alterações climáticas, tanto a nível da UE como a nível global.

Os oradores foram unânimes em defender que a UE deve confiar na ciência e desmistificar os temores à volta das NTG aplicadas à agricultura, recordando que o Prémio Nobel da Química de 2020 foi atribuído a dois cientistas responsáveis pela edição do genoma.

«Corremos um risco maior se deixarmos de fora a tecnologia (NTG) do que se a usarmos na obtenção e melhoramento de plantas para alcançar as metas da Estratégia do Prado ao Prato», afirmou Andreas Weber, Diretor do Instituto de Bioquímica das Plantas da Universidade Heinrich Heine.

Pedro Fevereiro, cientista e diretor executivo do Iplantprotect, apelou «à atualização da regulamentação da UE, que tem mais de 20 anos, na área do melhoramento de plantas. Não deve focar-se nas tecnologias de obtenção, mas no produto final que é utilizável pelos agricultores».

Dando o exemplo de uma NTG - a mutagenese induzida – Paula Carvalho, subdiretora da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, disse que está técnica «pode desempenhar um papel central no desenvolvimento de novas variedades vegetais adaptadas às alterações climáticas e mais resistentes a pragas e doenças - tomate resistente ao míldio, milho tolerante à seca, etc» e defendeu que «a UE não pode ficar para trás neste avanço científico – NTG -, deve dar passos informados e seguros, comunicar ciência e ser credível, e pôr em marcha um plano de ação para permitir que os agricultores tenham acesso aos mesmos instrumentos que os agricultores de outros continentes».

Garlich von Essen, secretário-geral da Euroseeds, reconheceu «as NTG não são uma varinha mágica, mas uma ferramenta importante para ajudar a mitigar os previsíveis impactos da Estratégia do Prado ao Prato na redução da produção de alimentos», lembrando que o mais recente estudo prospetivo da CE estima em apenas 0,4% o aumento da produtividade anual da agricultura europeia na próxima década.

José Pereira Palha, agricultor e presidente da ANPOC- Associação Nacional de Produtores de Cereais, afirmou que «as novas tecnologias de melhoramento genético são absolutamente fundamentais para ultrapassar os desafios das alterações climáticas e produzir alimentos a preços acessíveis. É o único caminho que temos para continuar a fazer agricultura, espero que o Parlamento Europeu aprove estas tecnologias para que os agricultores europeus consigam ser competitivos».

A sessão foi encerrada com um testemunho de António Sevinate Pinto, presidente da ANSEME- Associação Nacional dos Produtores e Comerciantes de Sementes, recordando que o melhoramento de plantas contribui para um aumento de produtividade da agricultura europeia de 1,16% ao ano. «A agricultura europeia precisa de tecnologias alternativas que contribuam para aumento da produtividade e da sustentabilidade do setor. Há que acelerar o processo de adoção das novas técnicas genómicas».

Algumas das conclusões-chave do evento: a única forma de proteger o nosso precioso capital natural é que todos os atores da cadeia de valor alimentar trabalharem em conjunto. A gestão da água será uma questão crítica não só no Sul da Europa, mas em todo o mundo. Temos de dotar os agricultores dos melhores instrumentos para gerir as suas terras, proteger a biodiversidade e a saúde dos solos. O futuro das relações comerciais internacionais terá de incorporar não só os potenciais ganhos económicos, mas também de ter em conta as externalidades ambientais, climáticas e sociais.

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Os eventos da edição regional do FFA 2021 foram organizados sob os auspícios da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia. O Fórum para o Futuro da Agricultura é a conferência internacional onde Agricultura e Ambiente se encontram para um diálogo aberto desde 2008, em Bruxelas. É uma iniciativa criada pelos parceiros fundadores ELO-European Landowners’ Organization e  Syngenta.

A plataforma digital do FFA2021 estará online durante esta semana, dispondo de várias salas que os participantes podem descobrir, incluindo uma cozinha com receitas sustentáveis, um lounge para networking e uma área de exposição virtual com conteúdos exclusivos nos diversos stands.

Para saber mais sobre o que foi debatido durante o dia visite  www.forumforagriculture.com onde poderá aceder às gravações das sessões gratuitamente.

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