Cercas Eléctricas

Actualmente a criação de bovinos (seja de leite ou de carne) atravessa uma grave crise de mercado, resultado de preços de venda muito baixos e custos de produção muito elevados. Com os alimentos caros, como as rações concentradas e até da palha, a subida das taxas de juro, o custo do petróleo, produtos farmacêuticos e até fertilizantes, uma das hipóteses de saída, que se apresenta como mais racional, é aumentar a margem de lucro reduzindo custos de produção.

A alimentação dos animais, nomeadamente de bovinos leiteiros, anda normalmente em torno de 60% (chegando a 75%) dos custos totais de produção (subindo quanto mais produtivos forem ou mais intensiva seja a exploração). Isto significa que 6 ou 7 vacas em cada 10 apenas produzem para pagar a manutenção das restantes 3 ou 4, e é neste item que existe certa margem de manobra para intervir.

O segredo das explorações europeias mais competitivas não está no facto de os restantes factores de produção serem mais baixos, mas sim por serem mais eficientes na utilização dos recursos.

Sendo a erva a alimentação natural dos ruminantes, algo que por vezes parece esquecido, e sendo os animais capazes de se servir dela sem custos acrescidos para o empresário agrícola, há que ver o pastoreio como uma séria oportunidade das explorações zootécnicas para fugirem à crise. O pastoreio é parte do segredo das regiões produtoras mais eficientes, nomeadamente francesas, açorianas, alemãs, polacas, etc.

Estando os animais, durante parte do dia, ao ar livre, podem alimentar-se a eles mesmos com um recurso relativamente fácil de produzir e muito económico (a erva), que associa a vantagem de ser simultaneamente fibroso (substituindo a necessidade de importar palha) e muito rico em proteína (principalmente se consociada com leguminosas e não espigada). O restante aporte energético e proteico é complementado com suplementos concentrados e silagens.

Mesmo que se argumente que pode haver reduções de produtividade dos animais, a economia gerada ultrapassa o valor das perdas. Assim, há que pensar num novo paradigma zootécnico, que é não tentar obter o máximo de produção dos animais, mas o óptimo de produção.

Com o pastoreio, as economias associadas não se sentem apenas ao nível da compressão de custos de produção por via da alimentação, mas sentem-se, e muito, ao nível do estado sanitário (redução drástica do número de mamites (mastites), problemas podais, infecções respiratórias e diarreias), menor custo em manutenção das instalações (menor volume de fossas e necessidade de limpeza das camas e corredores) e obviamente, no final, uma perceptível melhoria da qualidade dos produtos, seja da carne ou do leite, desde logo, pela expectável redução da contagem de células somáticas e da carga bacteriana.

Um dos obstáculos invocados para se considerar difícil a implementação de sistemas de pastoreio está no facto de ser necessário ter cercas permanentes, muros ou um pastor.

Porém, temos disponíveis, desde há muitos anos, mas ainda desaproveitadas entre nós, as cercas eléctricas ou muito propriamente chamadas pelos espanhóis de “pastor eléctrico”.

As cercas eléctricas são semelhantes a uma cerca normal de arame, em que os fios estão electrificados.

Têm a vantagem de exigirem menos arames e postes para serem eficazes, não tendo nunca que ser farpados.

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As cercas eléctricas podem ser utilizadas para confinar ovelhas, cães, porcos, cavalos, bovinos e até caracóis, e conter javalis, raposas, lobos, coelhos, etc. Em todo o caso, a sua construção difere conforme os animais em questão.

Nas cercas eléctricas as descargas são de alta voltagem, 1.000, 4.000, inclusivamente mais de 8.000 volts, dependendo do tipo de electrificador, animais e tamanho da cerca. Esta voltagem causaria a morte de animais e pessoas, não fossem as descargas intermitentes (intervalo de cerca de 1 segundo) e durando apenas uma fracção de segundo.

O animal que apanha um choque memoriza a sensação desagradável à aproximação do arame, evitando voltar a repeti-lo. Há, inclusivamente, estudos que indicam que as descargas eléctricas provocam a ozonização do oxigénio em torno do arame, o que induz também os animais, através do olfacto, a reconhecer melhor a aproximação ao mesmo, por exemplo, durante a noite.

As descargas são produzidas por electrificadores fixos ou móveis. São aparelhos que geram os impulsos eléctricos a partir de energia fornecida, ou pela corrente da rede de 220 volts, por bateria ou pequenos painéis solares móveis.

Os electrificadores móveis são usados em instalações temporárias e sempre com cercas de pequeno tamanho. Como a sua potência é menor não são eficientes com todas as espécies e raças de animais. Como a água é um bom condutor, os electrificadores devem sempre ser resguardados da chuva, especialmente os bornes da ligação positiva.

O electrificador tem dois pólos, um positivo e um negativo. A corrente positiva é descarregada nos arames da cerca, regressando ao pólo negativo quando o circuito é fechado (ver esquemas), por um animal que toca no arame carregado positivamente e transmite a corrente ao solo, é nesse instante que se dá o choque.

Os arames carregados positivamente devem estar devidamente isolados dos postes, por casquilhos e castanhas de borracha, plástico ou cerâmica, não contactar com ervas e ramos.

Por outro lado, para que se dê a descarga eléctrica através do solo é necessário que o pólo negativo do electrificador esteja ligado ao solo; isso faz-se pelo enterramento de um ou vários ferros que se ligam por meio de cobre ao borne negativo. Este processo, chamado de aterreamento, embora negligenciado por muitos, se for mal feito é quase sempre causa dos insucessos que se conhecem.

O choque será tão mais intenso quanto melhor for o aterreamento e por isso é importante que o solo não seja demasiado seco (a humidade serve como condutor) e a cerca não seja demasiado longa. Se tal acontecer é necessário que nos postes passe um fio adicional, neste caso negativo, que além de ligado ao borne negativo do electrificador terá, espaçadamente, ligações ao solo.

Nos portões os fios são isolados por manípulos que permitem a conexão e desconexão, no entanto, deve haver um circuito alternativo (por cima ou por baixo) que permite que a abertura de um portão não implique o desligamento de parte da cerca.

Por vezes, em cercas muito extensas, há necessidade de se controlarem as perdas de carga que ocorram nos arames; para o efeito, com o material da cerca deve-se adquirir um aparelho que permita, com segurança, medir a voltagem, garantindo grandes poupanças.

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Nos melhores equipamentos as instruções incluídas indicam também como proteger a cerca eléctrica no caso de descargas de trovoadas, perigo que, embora igual ao das cercas tradicionais, tem o risco de comprometer equipamentos que estão resguardados e ligados à rede.

Por razões de segurança, especialmente pelas crianças, a electrificação das cercas, na parte que confina com vias públicas, deve ser avisada por meio de sinais de perigo.

Embora, na maioria das vezes, as cercas eléctricas sejam utilizadas para compartimentar pastagens de uma forma algo fixa há, desde há muitos anos, robots que permitem a prática automática do “strip grazing”, sistema em que há, na pastagem, um fio eléctrico móvel que se faz avançar lentamente à medida que os animais consomem a erva, evitando-se assim a deambulação e conspurcamento, optimizando-se o aproveitamento da forragem.

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