Cão de Gado Transmontano acompanha o pastor desde o neolítico

O Cão de Gado Transmontano faz parte da história viva das terras “para cá do Marão” há mais de 10 mil anos. Como referência ancestral das memórias dos povos que ocuparam este território, enquanto protetor contra a ameaça dos lobos, é também um ícone ativo do património imaterial transmontano.

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Divanildo Outor Monteiro, docente e investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), estudioso desta raça autóctone, defende que a origem do cão de gado transmontano se situa no neolítico, pois é «contemporâneo da ovelha e cabra doméstica, cujos registos arqueológicos que se conhecem são desse período, valendo também a explicação da necessidade de os rebanhos serem acompanhados de um cão de guarda, fruto da elevada vulnerabilidade que teriam aos ataques do lobo e de outras feras».

Apesar da sua grande corpulência, tem um comportamento dócil e reservado. Sempre muito calmo e de olhar sereno, é cauteloso sem ser agressivo, mas também um dos animais mais corajosos na defesa do dono e dos seus bens. «Vinculado a este território, sempre desenvolveu a sua atividade ajudando o homem no cuidado que é necessário ter com os ovinos e caprinos, protegendo os rebanhos contra a agressão dos seus predadores, daí que a designação da raça faça jus à sua função e ao seu território», justifica o investigador.

Geralmente apresentam-se de cor branca o que permite aos pastores distingui-los dos lobos quando estes se aproximam, ou nas alturas de luta. Pertence assim às poucas raças que ainda hoje desempenham o papel que lhes foi destinado inicialmente, isto é a defesa contra o lobo. «Ao contrário do que se pensa, o lobo ainda ocorre livremente na região transmontana, pelo que esta raça desempenha uma função muito importante na economia rural, baseada na agro-pastorícia, numa zona do país de baixa densidade populacional», observa Divanildo Monteiro.

O que se vê em outras raças é uma exploração dos animais valorizando a sua estética, exceção feita às raças de aptidão cinegética, que têm também a sua função, e às raças que anteriormente eram de guarda e que hoje servem forças policiais e militares. A valorização dos aspetos estéticos das raças vai tão longe – alerta o investigador da UTAD – que «por vezes envolve a deformação e a alteração radical da morfologia do animal, com dificuldades funcionais subjacentes, porque o sentido estético que as pessoas valorizam contraria, às vezes, a morfofisiologia dos animais».

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