ANPOC e parceiros apresentam Lista de Variedades Recomendadas e Agenda de Inovação CEREALTECH

A Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) organizou hoje, dia 03 de junho, juntamente com o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) e o IPBeja, o Dia da LVR que contou com a presença e participação da ministra da Agricultura, Maria do Céu Albuquerque. O evento ficou marcado pelo dinamismo e vontade das entidades em fazerem mais e melhor pelo setor.

ANPOC LVR 2020

Bernardo Albino, da ANPOC, moderou o evento, começando a intervenção inicial por agradecer a participação de todos os oradores e espetadores daquele que foi o primeiro Dia da LVR celebrado em formato webinar, devido à pandemia sanitária da Covid-19.

O representante passou, em seguida, à apresentação do conceito da Lista de Variedades Recomendadas, que se traduz numa iniciativa de fileira, que envolve a produção, investigação e indústria, e que visa a identificação das variedades de cereais que melhor se adaptam às principais zonas produtoras de cereais em Portugal e que melhor servem os interesses de todos os intervenientes. As recomendações resultam de um trabalho conjunto e o objetivo passa por classificar as variedades de trigo mais adequadas aos interesses da indústria e da produção nacional. Estas recomendações conduzem, assim, à produção de lotes homogéneos e de maior dimensão, de elevada qualidade e perfeitamente adaptados às necessidades de transformação da indústria.

O projeto é controlado pela ANPOC, INIAV e IPBeja/ESA, assim como os seus parceiros da indústria transformadora, a Ceres, a Germen e a Cerealis. O Dia da LVR é o evento anual em que a fileira apresenta as variedades de trigo em estudo e, simultaneamente, descreve o modo como os ensaios do ano estão a decorrer. 

Seguiram-se as intervenções do Professor Manuel Patanita e do Professor José Coutinho, que realizaram a caracterização climática do ano agrícola e itinerário técnico dos ensaios em Beja e Elvas, respetivamente. Em Beja, os ensaios não sofreram stress hidríco, mas a temperatura alterou-se nos meses de fevereiro e março, o que levou a mais regas manuais, algo que não aconteceu em Elvas. Ambos os professores apresentaram as especificidades das variáveis e a LVR para 2020, que pode ser encontrada nos dois vídeos abaixo. 

A visão da indústria e das empresas

Seguiu-se a apresentação da visão da indústria moageira por parte de Paula Cardoso, da Ceres, e de João Amorim Faria, CerealisUm dos maiores players nacionais da moagem, o representante da Ceres destacou a «excelente experiência» com o projeto da LVR, visto que «conseguimos fazer um triângulo entre o que é a produção, a investigação e a indústria». Paulo Cardoso evidenciou a importância da existência de um canal aberto entre os três intervenientes e como tal «aumenta a rapidez para aceder a toda a informação e participar nas decisões e enquadramento nas variedades que vão ser desenvolvidas, o que estimula a competitividade nacional».

«Não temos por onde fugir de determinadas importações, mas há outros trigos que podem ser feitos em Portugal, por questões de proximidade, e que podem ser melhores controlados, como trigo para baby food», apontou. «É de extremo interesse que esses trigos sejam feitos em Portugal (...) Por exemplo, importamos trigo da Canadá e dos EUA, que podem ser origens difíceis não só pela importação, mas por preços de mercado, e aí podemos ser competitivos», realçou, terminando a sua apresentação por reafirmar a excelência do trabalho desenvolvido até então.

João Amorim Faria, da Cerealis, destacou que a entidade «tem interesse enorme neste projeto» numa «dupla componente», pois transformam os trigos duros e moles para a produção de massas e farinhas, que são os «dois grandes negócios da empresa». O representante da Cerealis recordou que antes existia uma heterogeneidade nacional dos trigos, o que dificultava a produção, pois limitava o uso dos trigos da moagem. Agora, com a LVR, essa situação foi melhorada. Contudo, destaca que existe uma necessidade de melhoria dos aspetos qualitativos dos lotes e devemos continuar a aproveitar as vantagens dos trigos nacionais, que se relacionam com a «baixa humidade» e sanidade, quando comparados com outras regiões do globo.

O representante da Cerealis acrescentou, ainda, que a LVR será importante para responder ao objetivo das novas estratégias da Comissão Europeia, nomeadamente para realizar uma redução de pesticidas sem colocar em causa os rendimentos e a qualidade dos produtos.

Seguiu-se a visão das empresas de sementes, que contou com variados representantes dos players do setor. O primeiro a intervir foi José Cañero, da empresa espanhola Battle, que expôs a sua visão, que tem no seu católogo aveia, cevada, trigo mole, trigo duro e tritical. 

António Sevinate Pinto, administrador da Lusosem, empresa de referência nacional, começou por destacar que a LVR se revela «uma ferramenta absolutamente fundamental», destacando que «ao fim de seis anos», a iniciativa «está capacitada e encontrou resiliência suficiente». Para o futuro, o administrador da Lusosem demonstra preocupação com a questão da genética nacional, destacando que variedades nacionais produzidas nos últimos anos ainda não chegam à distribuição e ao agricultor. António Sevinate Pinto acredita que tal seria importante para a questão da soberania nacional. 

«Desde o princípio que não tive qualquer dúvida sobre a importância da mesma», destacou, antes de terminar a sua intervenção, sobre o projeto. Daqui para a frente, o representante da Lusosem acredita que será necessário alargar um pouco o passo e dar um «belíssimo contributo» para a nova estratégia em termos do que se pretende de sustentabilidade e desenvolvimento. Apelou, ainda, a mais recursos para os agricultores atingirem os novos pressupostos para a biodiversidade, visto que a agricultura e as questões ambientais deverão sempre «andar lado a lado». Terminou ao afirmar que «aqui estamos com a mesma energia e com vontade de colaborar». 

Luís Albuquerque, da Agrovete, explicou que o contributo da empresa passa por «descobrir as variedades dos nossos fornecedores, experimenta-las e depois propor à LVR». Concordou, ainda, com o administrador da Lusosem em relação à genética nacional, destacando que a Agrovete entrega, todos os anos, mais de 100 mil euros a Espanha em royalities e só dispõe de uma variedade portuguesa. «Temos esperança, tal como outras empresas do setor, em poder adquirir mais variedades portuguesas», afirma. Deixou ainda um conselho: «Nos trigos moles e duros, devíamos ter mais cuidado e nunca esquecer que o objetivo foi sempre ter lotes maiores e homogéneos. Se começamos a ter muitas variedades inscritas, podemos voltar ao passado».

Seguiu-se Vasco Abreu, da Nutriprado, que, nas suas palavras, «sempre foi uma empresa dedicada às pastagens e forragens, mas agora estamos nos cereais de novo». O responsável destacou que as parcerias são essenciais e foi de encontro ao que Luís Albuquerque referiu, falando da necessidade de «ter lotes homogéneos para valorizar o nosso produto». A Nutriprado também tenta arranjar variedades em Espanha, escolhendo «os trigos com qualidade e aptos para a indústria». Destaca, ainda, a importância da resistência das variedades e da redução dos pesticidas, concluindo com a ideia de que é necessário «desenvolver a valorização do cereal em Portugal ao nível político e das associações».

Paulo Velez, da Cersul, destacou, também, a importância das parcerias. «A LVR é um contributo muito importante», apontou, afirmando que existem variedades com bastantes anos no mercado, o que «não deixa de causar preocupação». No futuro, acredita que seja inicial «trabalhar nas variedades de trigos melhoradores», como as variedades que o INIAV plantou neste período, uma para cada tipo de trigo. Acredita, ainda, ser essencial «manter o patamar dos melhoradores, mas entrar num patamar com trigos com patamar mais inferior», pois existem «necessidade de trigos para outros setores que fogem às atuais variedades recomendadas». Concluiu defendendo que não precisos mais segmentos, principalmente, de trigo mole. 

Após um breve segmento de perguntas e respostas, José Palha, presidente da ANPOC, encerrou a parte do evento dedicada à Lista de Variedades Recomendadas, destacando que este se trata de um «projeto estruturante» para a ANPOC e que «a iniciativa, apesar de todas as limitações, correu muito bem, com mais de 100 pessoas a assistir a este webinar. Cada vez mais o setor dos cereais está a afirmar-se enquanto setor tecnológico».

A Agenda de Inovação CEREALTECH

Em paralelo, a ANPOC e os seus parceiros do Centro Nacional de Competências dos Cereais praganosos, Oleaginosas e Proteaginosas (CEREALTECH), onde também se incluem o INIAV e o IPBeja, aproveitaram o momento para apresentar a sua Agenda de Inovação, agenda esta que resulta de um trabalho consistente de identificação das necessidades de inovação do setor, tendo reunido contributos de toda a fileira.

O moderador Bernardo Albino destacou que «o setor deve habituar-se a pensar a médio e a longo prazo e não só na resolução dos problemas» Tal como a LVR, a Agenda pretende o envolvimento de toda a fileira, sendo os parceiros são a produção, a investigação e as entidades que representam a indústrias no âmbito global dos cereais, exceto o milho e o arroz, que têm as suas agendas autónomas.  

O InovMilho - Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo promoveu, ao longo dos últimos dois anos, diversas reuniões de trabalho e dias de campo, em que participaram parceiros deste Centro de Competências, de forma a elaborar a sua Agenda de Inovação para os próximos anos.

Segundo o documento agora publicado, perante o atual contexto é especialmente importante que os recursos alocados à investigação, experimentação e inovação sejam canalizados para áreas que contribuam tanto para o aumento da produção agrícola interna como da sua qualidade, tendo por base os seguintes eixos estratégicos:

  1. Produção de alimentos;

  2. Recursos genéticos vegetais e biotecnologia;

  3. Recursos naturais (solo, água, ar e biodiversidade);

  4. Fitotecnia e proteção das culturas;

  5. Adaptação às alterações climáticas dos sistemas agrícolas.

Bernardo Albino apresentou os quatro macro objetivos da Agenda de Inovação: Aumento e estabilidade da produção; Sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos; Segurança, qualidade, diferenciação e valorização; e Capacitação, comunicação e transferência de conhecimento.

Seguiu-se os testemunhos da indústria. Luís Matos Ramos, da Germen; José Pedro Pereira, da Sovena; e Ondina Afonso, da Sonae, apresentaram os seus projetos e focaram-se em palavras-chave como organização, articulação, escolhas saudáveis e comunicação para referenciaram o futuro e o caminho potencial da Agenda de Inovação. 

«Nunca se falou tanto e de forma tao positiva em relação à agricultura» 

Maria do Céu Albuquerque, ministra da Agricultura, encerrou o evento. A titular da pasta do setor agrícola começou por destacar a «escolha feliz dos temas» trazidos pelos oradores durante a manhã, afirmando estar «particularmente sensibilizada pela forma simples, mas tão objetiva» de traçar a Agenda de Inovação para os cereais e «por terem trazido contributos de extrema importância».

A ministra da Agricultura aproveitou a oportunidade para afirmar que os cereais são essenciais para a dieta mediterrânea, realçando que «temos que apostar na produção nacional». «Sabemos onde estamos, e que não estamos bem, e também sabemos até onde podemos ir e por isso está a ser trabalhada a estratégia nacional para a produção dos cereais», que tem como objetivo atingir o patamar de 40% na auto-suficiência. 

A ministra destacou que as palavras proferidas pelos oradores, que se focaram em organização, articulação, escolhas saudáveis e comunicação, «são, no fundo, os objetivos que nós próprios, enquanto Ministério da Agricultura, estamos a desenvolver numa Agenda de Inovação para a Agricultura na próxima década, que nada mais quer que representar algo estratégico para o futuro. Precisamos potencializar o que já estamos a fazer, e bem, para podermos chegar mais longe. Isso faz-se com melhor organização, inovação, capacidade de fazer mais escolhas e comunicação».

Segundo Maria do Céu Albuquerque, estamos a experienciar a pior crise desde a segunda guerra o setor agrícola «foi o que menos vacilou, com uma capacidade de adaptação e resiliência inédita. Os agricultores, mesmo com perda de rendimento, foram capazes de manter a produção. Contudo, também expusemos mais as nossas fragilidades».

«Queria dar uma palavra de agradecimento, mais uma vez, aos agricultores, aos produtores, a toda a cadeia de abastecimento, até ao retalho, para garantirmos que não houvesse nenhuma falta na mesa dos portugueses, quer em qualidade, quer em quantidade. Todos tiveram um papel importante e saímos reforçados disto», destacou.

«Nunca se falou tanto e de forma tao positiva em relação à agricultura e sobre a nossa responsabilidade em escolher produtos nacionais», afirmou, aproveitando para recordar a campanha Alimente quem o Alimenta. «Somos referência internacional a nível do trabalho que estamos afazer, mas isso faz-se com comunicação, articulação, organização e com todos».

Em relação aos cereais, a ministra saudou a Agenda de Inovação relativamente ao aumento e estabelecimento da produção, bem como à preservação dos componentes ambientais, realçando que a agricultura deve aproveitar o momento para se aliar, ainda mais, à tecnologia. «Neste tempo, mostramos que a organização, articulação e estarmos todos juntos é essencial», apontou.

A Agenda de Inovação para a Agricultura que o Ministério da Agricultura está a preparar pretende aliar os objetivos nacionais e internacionais, tendo já sido realizadas sessões de auscultações, com mais de mil agricultores e produtores do território, para criar a mesma, que será apresentada brevemente. A ministra da Agricultura conclui a sua intervenção a apreciar, novamente, a iniciativa.

No encerramento, José Pereira Palha, Presidente da ANPOC, afirmou que «quisemos transformar a impossibilidade de fazer um verdadeiro dia de campo numa oportunidade: através do formato webinar conseguimos chegar a um público mais vasto e demos a conhecer de forma generalizada, mas sem perder a essência do dia, o importantíssimo trabalho de fileira que é desenvolvido com a LVR, ano após ano. Por seu lado, e por resultar, também, de um enorme esforço conjunto de identificação dos objetivos e respetivas metas de inovação do setor, fazia todo o sentido incluir neste dia a apresentação da Agenda de Inovação. Neste contexto de transferência de conhecimento e inovação, temas estratégicos para o setor agrícola, foi um privilégio termos contado com a presença e apoio da Senhora Ministra da Agricultura».

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