Agronomia Inteligente, o desafio digital

Por: Miguel de Castro Neto, Instituto Superior de Estatística e Gestão de Informação, Universidade Nova de Lisboa

Num ambiente em permanente mudança e competitividade crescente, enquadrada por questões de sustentabilidade económica, social e ambiental, uma das forças que tem vindo a fazer-se sentir com maior acuidade na sociedade em geral e no sector agrícola em particular é, sem dúvida, a revolução da informação e do conhecimento.

Um dos principais vectores desta evolução, também sentida no sector agrícola, consiste na disponibilização no mercado de forma ininterrupta, de soluções com elevada incorporação de tecnologias de informação e comunicação que promovem a recolha e disponibilização em tempo real dos mais diversos tipos de dados ao nível da exploração agrícola. Neste contexto, a evolução a que temos assistido em particular na área da computação móvel e da monitorização remota, materializada pela oferta no mercado de capacidades computacionais crescentes em dispositivos cada vez mais pequenos possuindo funcionalidades de monitorização, comunicação sem fios, fonte de energia integrada e capacidades de actuação, vem colocar um desafio extremamente interessante à economia em geral e ao sector agrícola em particular.

Esta realidade coloca o conhecimento agronómico no centro das atenções, uma vez que estas tecnologias não fazem mais do que ampliar as nossas capacidades de recolha e armazenamento de dados, lançando um desafio aos técnicos e empresários do sector para desenvolverem formas de converter esses dados em informação e, assim, utilizá-los nos processos de tomada de decisão do quotidiano da exploração agrícola.

Esta evolução foi inicialmente enquadrada no que se denomina de agricultura de precisão mas, após um primeiro momento em que assistimos à sua adopção nas culturas arvenses e ao desenvolvimento da zootecnia de precisão nas explorações leiteiras, acreditamos que estamos a observar uma mudança em que esta lógica de agricultura será adoptada na generalidade das actividades agrícolas e que as decisões de afectação de factores de produção serão efectuadas a uma escala de pormenor muito mais fina, possibilitando uma maior eficiência na sua utilização.

Paralelamente, assistimos hoje à colocação no mercado de inúmeras tecnologias que suportam este modelo de produção, que denominamos de agronomia inteligente, e que têm vindo a colocar uma pressão crescente nos actores que se movem neste sector, incluindo não só os empresários agrícolas, mas também os técnicos que lhes dão apoio.

Neste contexto, acreditamos que num futuro não muito distante, toda a agricultura praticada será de precisão, isto é, todas as decisões tomadas e acções praticadas serão realizadas num contexto informação intensivo e, como tal, todos os agentes do sector terão de desenvolver capacidades para, recorrendo aos mais recentes desenvolvimentos disponibilizados pelas tecnologias de informação e comunicação, poderem ser competitivos tirando partido da prática desta forma de agricultura.

Do nosso ponto de vista, a grande questão que se coloca nos dias de hoje é se existe a capacidade e o conhecimento agronómico para, com base na imensa quantidade de dados susceptíveis de serem recolhidos em tempo real, desenvolver soluções e ferramentas capazes de os transformar em informação e suportar a tomada de decisão.

Neste novo ambiente o factor crítico de sucesso residirá na capacidade de, suportado por repositórios de dados das mais diversas origens, natureza e formato, fornecer aqueles que, no momento oportuno e no formato adequado, serão informação e, na interacção com o empresário/técnico agrícola, se transformam em conhecimento e o apoiam nos seus processos de tomada de decisão, isto é suportar a descoberta de conhecimento.

Assim, esta nova realidade cria uma oportunidade única para a inovação, em particular para a criação de novos produtos e serviços suportados por uma estreita articulação do contínuo ensino/investigação – fornecedores/empresas de prestação de serviços – produção.

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