Agricultores preocupados com seca e conflitos entre rega e produção elétrica

A seca que está a afetar o território português e os conflitos pontuais entre as necessidades de rega e a produção de eletricidade estão a preocupar as associações de agricultores que exigem medidas ao Governo.

«Somam-se prejuízos para os agricultores de um modo geral, muito especialmente para aqueles das regiões mais do interior, para os produtores pecuários, por causa da falta de pastagem e da alimentação animal, mas também nos pomares, no próprio tomate para indústria que está a ficar queimado pelo sol, as vinhas que não são regadas, as florestas e os matos que estão ressequidos, muito propícios aos incêndios florestais», elencou o dirigente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), João Dinis.

Mostrando-se preocupado com a possibilidade desta ser a pior seca dos últimos 15 anos, o responsável da CNA lembrou que, segundo o boletim climatológico divulgado hoje pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera, a seca severa ou extrema atinge já 80% do território e deve intensificar-se ainda mais.

O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) Luís Mira reconheceu que quem não tem sistemas de rega, depende unicamente da chuva, que tem sido pouco abundante este ano, mas desdramatiza a situação, sublinhando que a seca é meteorológica, e não hidrológica.

«Não há falta de água, o problema para quem rega é ter água e as reservas de água têm tido quantidade suficiente (...). Todas as culturas que recorrem ao regadio têm reservas, tem sido um ano até positivo», frisou.

A CAP identificou, no entanto, algumas situações «complicadas» que afetaram locais de rega na zona de Abrantes, devido ao baixo caudal do Tejo.

«Houve relatos de que o caudal ecológico que estava acordado com Espanha às vezes está muito baixo», contou Luís Mira, acrescentando que ministério do Ambiente informou que «o convénio [luso-espanhol que regula o uso e aproveitamento dos rios internacionais] estava a ser respeitado».

No entanto, os problemas podem ir para além da fronteira. «Há as barragens portuguesas e os interesses da produção de energia, que não são os mesmos da rega, porque quem tem que vender energia, que é a EDP, interessa-lhe vender nas alturas em que a energia vale dinheiro», armazenando a água nas barragens durante a noite e voltando a bombear para turbinar de novo durante o dia, quando a eletricidade é mais cara.

«Isso não é a melhor coisa para se manter caudal ecológico no rio e para haver sempre água para as funções ecológicas e para a rega dos agricultores», notou Luís Mira.

O dirigente da CAP afirmou que não haver chuva em agosto «é normal» e adiantou que só se a precipitação for escassa em outubro é que os agricultores se vão começar a preocupar.

João Dinis da CNA, pelo contrário, reclama «medidas excecionais» desde já, tal como aconteceu em 2012, face a uma situação «altamente prejudicial para a agricultura familiar».

Entre estas medidas incluem-se apoios a fundo perdido para os produtores pecuários, redução fiscal na eletricidade verde devido à necessidade de intensificar a rega, linhas de crédito altamente bonificadas, isenções temporárias das contribuições mensais para a Segurança Social e antecipação das ajudas da PAC.

Fonte: Lusa

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