Por: Pedro Serra Ramos, Engenheiro Silvicultor
A produção mundial de castanha é estimada em cerca de 2 milhões de toneladas, ocupando uma área inferior a 545 mil hectares (FAOSTAT 2011). A China é o maior produtor do mundo, tendo produzido, em 2011, 1 700 000 toneladas, com uma área estimada da ordem dos 310 000 hectares, representando assim cerca de 84% da produção mundial. A Europa é responsável por cerca de 9% da produção mundial. Na Europa, destacam-se países como a Turquia, a Itália, a França, a Grécia e a Espanha, que, com excepção da Turquia cuja área é superior (38460 ha), possuem uma área inferior a Portugal. Contudo, a maior parte dos países têm uma produção por hectare superior ao nosso país, destacando-se a China com 5,48 t/ha, e na Europa países como a Grécia e a Ucrânia com 2,5 t/ha, a Itália com 2,37 t/ha, a Albânia com 2,25 t/ha, a Bulgária com 2,18 t/ha, contra a produtividade média dos soutos do nosso país que é de 0,53 t/ha (segundo dados da FAOSTAT).
Nas figuras seguintes apresenta-se a evolução mais recente da situação da castanha no nosso país:
Área de colheita, produtividade e produção na fileira da castanha em Portugal (Fonte: FAOSTAT System).
Apesar do último inventário florestal nacional (ICNF 2013), apontar para um aumento da área de castanheiro quer total (41410 ha), quer ao nível dos povoamentos (40810 ha), constata-se que a produtividade tem decrescido, observando-se um decréscimo da ordem dos 48%.
Podem-se levantar várias possibilidades para a redução da produtividade dos soutos, entre as quais:
- a instalação de novos soutos, que certamente virão a contribuir para um aumento da produtividade mas que ainda não atingiram a idade necessária;
- a existência de soutos em mau estado, sobretudo devido a problemas sanitários, nomeadamente a doença da tinta e mais recentemente o cancro;
- o chamado auto-consumo, existente sobretudo nas áreas rurais, que não entrando no circuito comercial, acaba por não ser incluído nos dados estatísticos;
- a falta de profissionalização quer ao nível da instalação quer ao nível da condução cultural dos soutos.
Todavia, a castanha assume já hoje valores que, numa óptica de integração com outras actividades, nomeadamente a produção de cogumelos e a produção lenhosa, se pode tornar muito interessante enquanto cultura.
Se observarmos a evolução do preço da castanha nos últimos dez anos, de que há dados, podemos concluir que se conseguíssemos atingir um nível de produção médio da ordem das 2t/ha, estaríamos a falar, apenas com a actividade da castanha, em rendimentos brutos da ordem dos 2900 euros por hectare, por ano, contra os actuais 768,5 euros por hectare.
Apesar disso, torna-se óbvio ser difícil competir em mercados internacionais, onde o preço da castanha oriunda da China não ultrapassa 0,16 euros por quilo.
Na nossa opinião, existe contudo muito trabalho a realizar, no nosso país, em termos de tecnologia de instalação e manutenção dos povoamentos, aprendendo não apenas com o que já hoje se realiza em outros países mas também envolvendo as empresas de prestação de serviços, que estão muito habituadas a realizar trabalhos de preparação de terreno e manutenção, possuindo equipamentos para a sua realização e utilizando técnicas muito mais eficazes do que algumas das que temos observado no terreno.
Evolução do valor unitário de venda de castanhas, preços na produção (Fonte: FAOSTAT System).
Uma das áreas que pode contribuir para uma melhoria significativa ao nível quer da produção, quer da utilização racional dos factores de produção, está relacionada com o planeamento e seguimento do desenvolvimento do povoamento de castanheiros, utilizando para isso a tecnologia GPS (Global Positioning System) associada aos princípios básicos do que é hoje utilizado na Agricultura de Precisão.
A TRIMBLE desenvolveu um conjunto de software, o TRIMBLE FORESTRY, que permite aos diferentes operadores de máquinas saberem com exactidão, no decorrer da operação que estão a efectuar, seja ela de preparação de terreno, seja de manutenção do povoamento, seja de colheita do produto final, onde realizar o trabalho, de forma localizada, permitindo assim maximizar a utilização dos factores de produção.
Este software, representado em Portugal pela ForestFin Lda., em parceria com a Pedro Santos Lda., associado a um conjunto de procedimentos e análises previamente efectuadas (Rustechworld), poderá permitir por exemplo, identificar e tratar cada árvore de um souto como um exemplar com necessidades diferentes que devem ser colmatadas com o objectivo de maximizar a sua produção individual. Este tipo de tecnologia tem largas vantagens não só do ponto de vista da produção, já que maximizando a produção individual estaremos a maximizar a produtividade por hectare, mas também da redução dos custos de produção e manutenção, pois apenas é fornecido à árvore aquilo que ela necessita.
Associado a este conjunto de vantagens existe a redução do impacte ambiental, no ecossistema, das técnicas aplicadas, nomeadamente no desperdício de nutrientes aplicados através da adubação ou da necessidade ou não de proceder a correcções do ph do solo de uma forma mais objectiva.
Este acompanhamento individual permite igualmente a detecção com maior antecedência de problemas fitossanitários, permitindo assim ganhar tempo na sua prevenção e combate.
Da mesma forma, a utilização desta tecnologia permite uma melhor gestão das variedades de castanha a produzir, através da gestão do souto no que respeita à polinização e à forma como cada individuo deve ser posicionado no terreno, para se obterem os resultados desejados.
Por fim, ao nível da colheita mecanizada, consegue-se acompanhar a produção individual de cada árvore ao longo do tempo e gerir toda a logística de transporte até às unidades transformadoras, garantindo uma maior racionalização na utilização dos combustíveis e permitindo à unidade transformadora saber, em tempo real, com o que conta quer ao nível da produção quer ao nível da qualidade.
A implementação desta tecnologia, implica igualmente a formação e sensibilização dos produtores, de forma individual ou através das suas organizações associativas e o envolvimento das empresas prestadoras de serviços que constituem um elo fundamental na qualidade do serviço que é necessário prestar para que se possa retirar todo o potencial do sistema.