A manutenção de máquinas agrícolas como factor estratégico de competitividade (Parte II / III)

Por: José Torres Farinha,
António Simões,
Inácio Fonseca,

4. Efluentes

Outra vertente da manutenção de condição baseia-se no controlo dos efluentes. Estes poluentes são objecto de restrições na regulamentação ambiental aplicável na generalidade dos sectores, não obstante o sector agrícola continue a ficar fora das normas EURO (referentes à redução das emissões poluentes dos veículos ligeiros). Os efluentes mais relevantes são os seguintes: partículas de dimensão inferior a 10 µm (PM10); os NOx; CO; HC; CO2, e o nível de ruído (Farinha e Outros, 2010), (Simões e Outros, 2007), (Farinha, 2011).

Ao nível da gestão dos efluentes de combustão, na União Europeia são considerados, habitualmente, 11 grupos de poluentes, alguns dos quais ainda não abrangidos pela legislação em vigor, e que são:

  1. Dióxido de Carbono, CO2, que não se encontra definido, na legislação em vigor, como um poluente; merece referência apenas devido à sua contribuição para o efeito de estufa;
  2. Monóxido de Carbono, CO;
  3. Compostos Orgânicos Voláteis, VOC, ou total de hidrocarbonetos, THC, que se dividem em: a) Compostos orgânicos voláteis, excepto metano, NMVOC ou, simplesmente, HC; neste grupo existem restrições combinadas, específicas das emissões de butadieno 1,3 e benzeno; b)Metano, CH4;
  4. Óxidos de azoto, NOx e, particularmente, o NO2;
  5. Dióxido de Enxofre, SO2;
  6. Amoníaco, NH3;
  7. Óxido nitroso, N2O;
  8. Partículas de diâmetro aerodinâmico inferior a 10 mm, PM10, ou, simplesmente, PM;
  9. Partículas de diâmetro aerodinâmico inferior a 2,5 mm, PM2.5;
  10. Compostos de chumbo, Pb;
  11. Outros metais pesados, HM – Heavy Metal – (Cádmio-Cd, Zinco-Zn, Cobre-Cu, Crómio-Cr, Níquel-Ni, Selénio-Se);
  12. Ácido sulfídrico, H2S.

O problema dos efluentes no sector agrícola deve ser levado em consideração com particular acuidade, atendendo a que estes produtos se depositam nos produtos hortícolas e entram na cadeia alimentar, pelo que a sua minimização (idealmente a sua eliminação) traz óbvios benefícios para a saúde pública.

O controlo dos efluentes gasosos assume uma importância fundamental na redução dos impactos ambientais. A incorporação de equipamentos de tratamento de gases terá que constituir uma das boas práticas, não só pela aplicação de catalisadores mas também de filtros de partículas.

Também a redução de ruído terá que assumir uma prioridade de defesa da saúde de operadores de máquinas agrícolas e pessoal envolvido em actividades afins, levando não só a uma redução na geração mas também à sua redução nas condutas de descarga para
a atmosfera.

5. Manutenção condicionada

A implementação da Manutenção por Controlo de Condição obedece a etapas que se resumem nas seguintes (Farinha, 2011):

  1. Avaliação do equipamento – fase em que os equipamentos são analisados sistematicamente de modo a determinar quais os componentes críticos ou não críticos que podem e devem ser acompanhados do ponto de vista do Controlo da sua Condição;
  2. Selecção da técnica de monitorização e dos correspondentes sensores – fase em que para as instalações e equipamentos definidos, e com base no conhecimento ou estimativa das suas avarias típicas e do seu modo de funcionamento, se selecciona a técnica ou técnicas mais adequadas para acompanhar as respectivas condições operacionais;
  3. Definição dos níveis de referência a utilizar – fase em que, para as variáveis seleccionadas, se decidem os níveis de referência e os limites que conduzem a alarme e consequente intervenção da manutenção.

A manutenção de condição usualmente envolve uma componente de predição, que é efectuada através de algoritmos que recorrem ao uso de séries temporais ou de redes neuronais, entre outras.

As variáveis de controlo a utilizar nos algoritmos de predição podem ser diversas. No caso presente, evidenciaram-se os óleos e os efluentes, que se assumem como as mais relevantes enquanto origem de dados de acompanhamento, controlo e predição para equipamentos agrícolas.

Outro aspecto que é necessário levar em consideração é o tipo de medição das variáveis de controlo, que pode ser off-line ou on-line:

  1. No primeiro caso, os dados são recolhidos e seguidamente introduzidos num sistema de informação ou num programa específico que irá predizer a evolução da variável e o instante em que poderão haver sinais de alerta;
  2. No segundo caso, as medições são feitas em tempo real e introduzidas num sistema de informação que sistematicamente avalia o valor das variáveis, emite os níveis de alerta, incluindo a emissão das Ordens de Trabalho.

Os sistemas on-line baseiam-se em sensores, possuindo um interface entre os sensores de leitura dos dados de condição do equipamento e uma rede de transmissão de dados para um sistema de informação de gestão da manutenção que, posteriormente, irá fazer a predição e a emissão automática das Ordens de Trabalho (Farinha e outros, 2008).

Bibliografia

  1. Farinha, J. T. (2011): Manutenção – "A Terologia e as Novas Ferramentas de Gestão". Monitor, Lisboa, Portugal. ISBN 978-972-9413-82-7.
  2. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Costa, A., Bastos, P., Barbosa,
  3. F. M., Ferreira, L. A., Carvas, A. (2010): "Terology Beyond Tomorrow”. Maintworld – Maintenance & Asset Management. N.o 1. Pp. 46-50. ISSN 1798-7024, ISSN-L 1798-7024.
  4. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Barbosa, F. M., Bastos, P., Carvas, A. (2010): “A Better Environment Through Better Terology”. Proceedings of The 5th IASME / WSEAS International Conference on Energy & Environment (EE’10). ISSN: 1790-5095 384, ISBN: 978-960-474-159-5. Pp. 384-390.
  5. Farinha, J. T., Fonseca, I., Simões, A., Barbosa, F. M., Viegas, J. (2008): "New Ways For Terology Through Predictive Maintenance in an Environmental Perspective. WSEAS Transactions on Circuits and Systems, Issue 7, Volume 7, July 2008. ISSN 1109-2734, pp. 630-647.
  6. Farinha, J. T., Teixeira, C. L., Dias, J. C., Alonso, M., Serens, N. (1998): “ICOM - Interface de Controlo de Objectos de Manutenção Hospitalar". Revista Manutenção, N.o 57/58, Julho 1998, pp. 4-9.
  7. Simões, A., Farinha, J. T, Fonseca, I., Marques, V. (2007): "Manutenção Condicionada às Emissões Poluentes em Autocarros Urbanos – Uma Abordagem Ecológica". Actas em pen drive do 9.o Congresso Nacional de Manutenção. 21 a 23 de Novembro. Exponor. Porto, Portugal.

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