A internacionalização dos pequenos produtores de framboesa

Por Mafalda Antunes e João Paulo Peixoto
Atlântico Business School - Escola Superior de Negócios Atlântico

framboesa

Resumo Executivo

1. Enquadramento

Sendo o tecido agrícola português caracterizado maioritariamente por PME, a fileira dos frutos vermelhos e em especial a da framboesa não é exceção, com pequenas explorações predominantemente a norte e centro do país, e maiores a sul.

Não havendo escoamento do produto no mercado interno, a internacionalização apresenta-se como o caminho a seguir, sendo a obtenção de escala/dimensão condição obrigatória para o seu sucesso.

No entanto, esta situação é extremamente danosa e preocupante, especialmente para os pequenos produtores, que, estando impedidos pela área reduzida das suas explorações, de produzir grandes quantidades e necessitando igualmente de escoar a sua produção, acabam por ter de vender o seu produto a outros produtores/distribuidores por um preço mais baixo, evidenciando um poder de negociação bastante reduzido na supply-chain e colocando em risco a sustentabilidade do seu negócio a médio e longo prazo.

Com esta motivação, e sendo a exportação um dos principais modos escolhidos de entrada no mercado externo, é o objetivo deste estudo averiguar quais as principais barreiras à internacionalização apercebidas pelos pequenos produtores de framboesa, fileira em expansão na agricultura portuguesa, e que os impedem de obter uma maior rentabilidade do seu negócio.

Assim o objetivo do presente artigo é o de confirmar a tese: “a presença do Global Mindset influencia a perceção da relevância das barreiras à exportação dos pequenos produtores de framboesa?”

2. Revisão Teórica

Com o objetivo de reunir a informação e dados necessários que permitam entender quais as principais barreiras que impedem os pequenos produtores de framboesa de se internacionalizarem, foram escolhidos os seguintes estudos, que demonstraram a maior relevância para o desenvolvimento deste trabalho:

De acordo com (Baptista, 2015), foi possível obter conhecimento sobre o setor dos pequenos frutos em Portugal, assim como o enquadramento teórico sobre conceitos de internacionalização e marketing internacional e exemplos de boas práticas na envolvência das PME, bem como identificar as oportunidades e fragilidades apercebidas pelos vários intervenientes no mercado.

Do estudo realizado por (Madureira, Cristovão, Ferreira, & Koehnen, 2013) e conduzido em Portugal, especificamente ao caso do Cluster dos Pequenos Frutos, foi possível identificar e conhecer mais pormenorizadamente o setor específico em causa, como estão organizadas e operam as redes de conhecimento existentes nesse meio, bem como determinar o que será necessário para melhorar o seu funcionamento.

Do artigo realizado por (Kyvik, Saris, Bonet, & Felício, 2013) através de uma perspetiva cognitiva, este estudo tenta explorar a relação entre a formação do Global Mindset dos CEOs das pequenas empresas e a sua influência na estratégia de internacionalização por estas adotada. Os dados do estudo foram obtidos de informação de questionários online a PME em Portugal (2009) e na Noruega (2007), nos seguintes setores de atividade: construção, comércio, agricultura e pescas, IT, têxtil, química e plásticos e investigação e desenvolvimento, permitindo identificar indicadores para a mensuração do Global Mindset.

Da autoria de (Stanton & Burkink, 2008), o artigo Supply Chain Management International Journal, tem como principal objetivo a identificação dos principais atributos que permitam melhorar a participação dos pequenos produtores de frescos nas cadeias de abastecimento internacionais. Apercebendo-se deste gap, os autores examinam como negociar com sucesso com importadores estrangeiros, um dos vários problemas existentes dos canais de distribuição.

Da autoria de (Pinho & Martins, 2010), o estudo com o principal objetivo de identificar algumas das principais barreiras à internacionalização que poderão influenciar potenciais empresas portuguesas, exportadoras e não-exportadoras de vários setores de atividade, nas suas operações. A recolha de dados foi efetuada através de inquérito por questionário numa amostra de 1200 PME na região Norte de Portugal, da base de dados da Dun & Bradstreet (Informa DB) e do ICEP, enviada por correio eletrónico para os seus CEOs, tendo os autores concluído que da bateria de barreiras analisada, seis delas são estatisticamente significativas da probabilidade da PME ser não exportadora.

3. Análise Empírica

Da literatura existente e dos estudos apresentados, foi possível definir métricas de quantificação da presença do Global Mindset nas organizações, bem como identificar uma série de fatores bloqueadores ou barreiras que geralmente afetam quer o processo quer a própria decisão de exportar de empresas em vários países e especificamente nas PME portuguesas de distintos setores de atividade.

Com o objetivo de provar a nossa tese inicial “A presença do Global Mindset influência a perceção da relevância das barreiras à exportação dos pequenos produtores de framboesa?”, foram formuladas as seguintes hipóteses:

Hipótese H0: A presença do Global Mindset não influencia a perceção da relevância das barreiras à exportação dos pequenos produtores de framboesa.

Hipótese H1: A presença do Global Mindset influencia a perceção da relevância das barreiras à exportação dos pequenos produtores de framboesa.

Nestas condições, temos como variáveis explicativas a presença do Global Mindset, e a relevância das barreiras à exportação escolhida pelos pequenos produtores de framboesa.

Para efeitos deste estudo, foi considerada a existência de Global Mindset apenas nas organizações cuja administração/direção detinha cumulativamente recursos humanos com habilitações académicas superiores, com experiência profissional internacional e fluência em línguas estrangeiras. As barreiras à exportação analisadas foram a falta de conhecimento de mercados potenciais, a falta de recursos humanos qualificados, a falta de capacidade técnica, o grau de competitividade do setor, a falta de assistência financeira (pública e/ou privada) e a dimensão da empresa.

A relevância das barreiras à exportação para os pequenos produtores de framboesa, foi avaliada segundo uma escala de Likert de cinco pontos (nada importante – pouco importante- indiferente- importante- muito importante).

Para testar as hipóteses desenvolvidas foi utilizado o Teste Exato de Fischer para duas amostras independentes (organizações com Global Mindset e organizações sem Global Mindset), com um intervalo de confiança a 95% e α=0.05, valores geralmente utilizados neste tipo de pesquisa.

4. Resultados

Após a recolha e o tratamento dos dados, conforme ilustrado na figura 1, podemos concluir o seguinte:

fig 1

Figura 1 - Classificação da relevância das barreiras à exportação por tipo de organização

A classificação da relevância das barreiras à exportação consideradas pelos dois grupos distintos; das 6 barreiras apresentadas, a que foi considerada como muito importante para o grupo Com GM por 75% dos inquiridos foi a falta de assistência financeira, seguida em 50% pela dimensão da empresa e a falta de conhecimentos de mercados potenciais, em 38% a falta de capacidade técnica, seguida em 13% pela falta de recursos humanos qualificados e o grau de competitividade do setor.

Considerada muito importante para o grupo Sem GM, 29 % dos inquiridos a falta de assistência financeira, seguida em 21% pela dimensão da empresa, em 14% pela falta de capacidade técnica, e em 7% a falta de conhecimento de mercados potenciais e a falta de recursos humanos qualificados.

Com a relevância de importante para o grupo Com GM, foi considerada por 50% da amostra a falta de recursos humanos qualificados e o grau de competitividade do setor, seguida da dimensão da empresa com uma expressão de 38%, da falta de assistência financeira com 25% e as restantes duas barreiras com uma expressão de 13% da amostra.

Já para o grupo Sem GM foram classificadas com a relevância de importante, por 64% da amostra o grau de competitividade do setor, seguida em 50% pela falta de recursos humanos qualificados, por 29% a falta de assistência financeira, com uma expressão de 21% a falta de capacidade técnica, e com 14% a dimensão da empresa.

Consideradas de relevância indiferente pelo grupo Com GM por 38% das empresas foram as barreiras falta de capacidade técnica e grau de competitividade do setor, seguidas da dimensão da empresa e da falta de conhecimento de mercados potenciais com 13%.

Como indiferente para o grupo Sem GM, foram classificadas por 36% das organizações a falta de conhecimento de mercados potenciais, seguida da dimensão da empresa e da falta de assistência financeira com 29%, do grau de competitividade do setor com 21% e com 14% a falta de recursos humanos qualificados e a falta de capacidade técnica.

Com a relevância de pouco importante pelo grupo Com GM foi considerada por 38% da amostra quer a falta de recursos humanos qualificados, seguida da falta de conhecimento dos mercados potenciais e a falta de capacidade técnica com uma expressão de 13%. Com a relevância de pouco importante pelo grupo Sem GM, foi considerada por 50% da amostra a falta de capacidade técnica, com 36% da dimensão da empresa, seguida da falta de recursos humanos qualificados com uma expressão de 29%, e com 14% a falta de conhecimento de mercados potenciais, o grau de competitividade do setor e a falta de assistência financeira.

Finalmente, classificada com a relevância de nada importante apenas foi considerada a barreira falta de conhecimento dos mercados potenciais, sendo que para o grupo Com GM a sua expressão foi de 25% e para o grupo Sem GM foi de 14%.

A seguinte figura sintetiza o resultado dos testes de hipóteses efetuados, recorrendo ao teste exato de Fisher.

fig 2

Figura 2 - Resultados do Teste de Hipóteses

Como se pode ver no resumo, em todos os testes a probabilidade apresentou-se superior ao coeficiente de significância, pelo que foram aceites as hipóteses Ho.

5. Conclusões

Dos resultados obtidos podemos afirmar que a nossa amostra é composta por 41% de empresas exportadoras e 51% de empresas não exportadoras, das regiões Norte e Centro do país. Adicionalmente a presença do Global Mindset (GM) foi encontrada em apenas 36% das empresas constituintes da nossa amostra.

A bateria de barreiras à exportação escolhidas para a nossa análise foi considerada de uma forma geral relevante pelas empresas participantes. O grupo de empresas com GM, tendencialmente classificou as barreiras à exportação avaliadas com um maior grau de importância do que o grupo sem GM.

Para avaliar a influência da presença do Global Mindset na perceção da relevância das barreiras à exportação, foi testada a hipótese Ho para cada uma das seis barreiras escolhidas, tendo os resultados sido homogéneos em todos eles.

Desta forma podemos concluir que a influência da presença do GM na perceção da relevância das barreiras à exportação na nossa amostra, não é estatisticamente significativa, sendo as variáveis independentes, pelo que se confirma a hipótese inicial H0: A presença do Global Mindset não influencia a perceção da relevância das barreiras à exportação dos pequenos produtores de framboesa.

6. Limitações e Investigação futura

Tal como qualquer estudo de investigação, o presente trabalho tem limitações, que devem ser tidas em linha de conta na análise das conclusões anteriormente mencionadas.

Conforme referido, a dificuldade em reunir/encontrar documentação científica e estudos recentes sobre esta temática e bem como a informação sobre o setor específico dos pequenos produtores de framboesa, desde logo limitou a contemporaneidade da informação pesquisada. Também a reduzida dimensão da amostra obtida, quer em número, quer em representação geográfica, dificilmente permitem que a mesma possa ser considerada como representativa do tecido empresarial do setor.

Assim, apresenta-se pertinente que futuros estudos sobre este tema obtenham uma amostra que garanta a representatividade do setor. Seria também importante incluir a avaliação da pertinência das outras barreiras à exportação mencionadas pelos respondentes no presente estudo.

Finalmente, seria relevante mensurar em que magnitude cada uma das componentes da medição do GM influenciou os resultados, ou eventualmente testar novas métricas que melhor o representem junto do setor.

7. Implicações na Gestão Empresarial

É do conhecimento geral que as PME, embora não dispondo dos mesmos recursos das grandes empresas, conseguem, devido à sua natureza, ser mais ágeis e rápidas nas tomadas de decisão do que as últimas, situação que pode tornar-se uma grande vantagem competitiva, se bem gerida e orientada.

Temos assim um grande potencial exportador no tecido empresarial português, constituído na sua maioria por PME, o qual deve ser aproveitado.

Para tal poder acontecer, é necessário conhecer e caracterizar cada setor, reconhecer os seus pontos fortes e as suas limitações.

O presente estudo contribui assim, para um melhor entendimento da necessidade que os pequenos produtores de framboesa têm de reunir conhecimento e experiência nos campos do comércio internacional, logística, entre outras componentes fundamentais à internacionalização.

Desta forma, torna-se pertinente conseguir fazer chegar aos pequenos produtores a possibilidade de obter esse tipo de formação em falta, possivelmente através de protocolos/parcerias entre as várias associações representativas do setor e as Business Schools.

Key words: Internacionalização, pequenos produtores de framboesa, barreiras à exportação, PME, Global Mindset

8. Referências

Baptista, A. da C. (2015). Estratégia de Internacionalização dos Frutos Silvestres ( Pequenos Frutos ) Estratégia de Internacionalização dos Frutos Silvestres ( Pequenos Frutos ). Universidade de Évora.

Kyvik, O., Saris, W., Bonet, E., & Felício, J. A. (2013). The internationalization of small firms: The relationship between the global mindset and firms’ internationalization behavior. Journal of International Entrepreneurship, 11(2), 172–195. http://doi.org/10.1007/s10843-013-0105-1.

Madureira, L., Cristovão, A., Ferreira, D., & Koehnen, T. (2013). How to design and develop inclusive knowledge and innovation agricultural networks : Lessons from the case of the Portuguese Cluster of small fruits, (2009), 1–14.

Pinho, J. C., & Martins, L. (2010). Exporting barriers: Insights from Portuguese small- and medium-sized exporters and non-exporters. Journal of International Entrepreneurship, 8(3), 254–272. http://doi.org/10.1007/s10843-010-0046-x.

Stanton, J. V, & Burkink, T. J. (2008). Improving small farmer participation in export marketing channels: perceptions of US fresh produce importers. Supply Chain Management: An International Journal, 13(3), 199–210. http://doi.org/10.1108/13598540810871244.

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