A influência da escolha das plantas de mirtilo na longevidade do pomar

A influência da escolha das plantas de mirtilo na longevidade do pomar

Por: Sílvia Lemos, Técnica da Agim

A escolha das plantas é um fator preponderante para a longevidade de um pomar e seu consequente sucesso produtivo. Devido ao número crescente de pomares de mirtilo a serem implementados de norte a sul do País, conseguir plantas é cada vez mais uma tarefa árdua.

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Os promotores enfrentam grandes períodos de espera para que possam ter acesso a material vegetal pelo que é urgente que tenham em atenção fatores como:
·    Escolha de variedades com cotação comercial;
·    Método de propagação;
·    Certificado varietal;
·    Passaporte fitossanitário;
·    Idade das plantas;
·    Desenvolvimento radicular;
·    Adaptação às condicionantes edafoclimáticas.

Antes de pensar o que produzir, o futuro produtor terá de pensar para quem produzir!

Assim, antes de fazer qualquer escolha em relação a variedades a implementar deverá fazer uma pesquisa sobre que cultivares possuem cotação comercial e qual a sua janela de produção na zona do país onde irá implementar o seu pomar tendo em consideração que as cultivares não terão a mesma resposta ainda que inseridas na mesma zona Norte ou zona Sul, pois a altitude e proximidade do mar podem alterar em cerca de 15 dias a janela de produção.

Relativamente ao tipo de propagação das plantas, podemos considerar que estas são obtidas essencialmente por dois tipos de propagação: estacaria (macropropagação ) e propagação controlada em laboratório (micropropagação).

O uso de estacas caulinares é a principal técnica de macropropagação vegetativa. Na propagação por estacas caulinares utilizam-se segmentos de caules contendo gomos terminais ou laterais, que são colocados em condições adequadas à produção de raízes adventícias. Mediante o atempamento da lenha e altura em que são preparadas podemos classificar estas estacas como mais herbáceas ou lenhosas. Habitualmente, a estacaria é realizada através de estacas lenhosas preparadas após a poda de plantas em produção. A utilização destas estacas sem que haja uma seleção prévia de plantas-mãe e sem que o propagador verifique a isenção de pragas e doenças leva à proliferação de problemas fitossanitários e a perda do potencial produtivo da planta. Ao utilizarmos estacas lenhosas estamos a promover envelhecimento no pomar.

Caso optemos por utilizar plantas obtidas através de estacaria deveremos privilegiar plantas obtidas por estaca herbácea, aumentando assim a possibilidade de enraizamento e diminuindo a taxa de mortalidade das plantas. Não obstante é necessário que o propagador tenha licença de propagação de plantas.

O ideal é utilizarmos plantas propagadas em laboratório, micropropagadas já que este método se caracteriza pela propagação fiel de um genótipo selecionado que passa por várias fases até estar perfeitamente aclimatado e pronto a ser transplantado, sendo por isso material vegetal que para além de certificado bem como isento de pragas e doenças, se adapta mais rapidamente e emite mais rebentação de base respondendo com maior rapidez, traduzindo-se numa taxa de mortalidade à plantação mais baixa e num elevado potencial produtivo.

Não menos importante é também a idade da planta a transplantar, deve-se utilizar plantas com idade superior a um ano e com vasos de, no mínimo, 1l/1,5l de substrato. Estas plantas, já melhor estruturadas possuem maior resistência ao stresse de transplantação, diminuindo as perdas de plantas aquando a plantação.

Associado à idade e vigor da planta está o sistema radicular da mesma. Este é o espelho da sua parte vegetativa (massa verde). Plantas ativas e em crescimento constante possuem um sistema radicular bem desenvolvido (rizosfera com elevado número de raízes brancas), sinónimo de desenvolvimento e crescimento da raiz. Quanto melhor desenvolvido estiver o sistema radicular mais fácil serão as absorções e a sustentação da planta, bem como trocas e simbioses que se poderão efetuar. E por último, mas não menos importante, deve ser tida em consideração a escolha das cultivares em função das condicionantes de solo e clima da parcela. Quanto mais acertada for esta escolha, considerando condicionantes como: o número de horas de frio abaixo dos 7°C, a data de ocorrência da última geada, a exposição solar, as características do terreno, entre outros, mais produtivo será o pomar e mais longevidade terão as plantas.

É ainda de ressalvar que a ausência de legislação específica para a cultura, ao contrário do que já acontece com outras culturas como o kiwi, vinha ou morangueiro, que na atualidade dispõem de legislação própria que regula a sua propagação, faz com que o produtor possa sentir alguma desconfiança e receio em relação a este material vegetal, correndo o risco de importar problemas sanitários graves e introduzir no seu pomar plantas contaminadas.

É por isso urgente um controlo mais efetivo do material vegetal em trânsito bem como da sua propagação para que num futuro próximo não tenhamos graves problemas de produção na fileira. Deste modo, aconselha-se o produtor a recorrer a empresas idóneas  e a contratualizar a aquisição das suas plantas, no sentido de salvaguardar os seus interesses. Neste contrato deve estar descriminado o número de plantas total e a identificação de cada cultivar, origem do material vegetal (nacionalidade e forma de propagação), passaporte fitossanitário (existência ou não), idade das plantas, capacidade do vaso, prazos de entrega e taxa de retancha (taxa de necessidade de substituição de plantas, que para uma boa implementação de pomar não deverá ser superior a 5%).

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