«A agricultura é um setor vulnerável às condições climáticas», alerta ministro

O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, deixou vários alertas no seminário sobre “Alterações Climáticas e Agricultura”, de 26 de janeiro de 2016, promovido pela CAP – Agricultores de Portugal.

clima

«Esta é uma temática que nos deve interessar a todos, enquanto fenómeno com origem e impacto de caráter global e um dos maiores desafios da humanidade», disse o ministro.

Para o governante, o Acordo de Paris representa «um passo importante no que se refere ao futuro do planeta e das novas gerações. Este é o momento da viragem para garantir a subsistência do planeta, como o conhecemos».

Nos impactos das alterações climáticas «são especialmente relevantes, em Portugal, as disponibilidades hídricas e a fragilidade das zonas costeiras», disse.

«O estado a que chegámos obriga-nos não só a apostas mais exigentes em medidas de mitigação, mas também a defender o país dos efeitos irreversíveis das alterações climáticas. Hoje, já não é possível pensar apenas em reduzir a emissão de Gases com Efeito de Estufa. Temos que nos adaptar. As ações exigirão que a agricultura, tal como as cidades e todos os setores económicos, se preparem para períodos mais ou menos prolongados de escassez de água, intercalados com picos de precipitação intensa. O desafio é enorme em termos de gestão deste recurso e todos somos chamados a esta luta», apelou o ministro.

Para João Matos Fernandes, a agricultura «é um setor particularmente vulnerável às condições climáticas. Portugal, até ao final do século XXI, terá de se adaptar a condições progressivamente desfavoráveis para a atividade agrícola e florestal. A redução da precipitação, o agravamento da frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos e o aumento da suscetibilidade à desertificação são cenários de evolução climática com que nos teremos que debater».

A resposta a estes desafios implica, desde logo, «o envolvimento de todos. Os produtores agrícolas e florestais e as suas organizações, de que é exemplo a Confederação dos Agricultores de Portugal, a comunidade científica, as organizações da sociedade civil e o Governo, são atores chave», realçou o governante.

Neste contexto, sublinhou o ministro do Ambiente, «Portugal dispõe de uma Estratégia para a Política Climática que visa uma economia sustentável e de baixo carbono. Para a implementação desta estratégia precisamos de todos, porque acreditamos que só assim as políticas climáticas serão um sucesso».

«Portugal tem hoje uma Estratégia Nacional de Adaptação às Alterações Climáticas que contou com a participação ativa deste setor. Este é um instrumento que, a par das Estratégias para a Agricultura e Florestas, permitirá que o setor, por um lado, aumente a sua resiliência aos riscos de natureza climática e, por outro, mantenha a sua capacidade de produção de bens e serviços e aumente a sua competitividade.

Face aos eventos extremos e maior variabilidade climática, os principais fatores críticos são a disponibilidade de água e a capacidade de rega, a fertilidade do solo e a prevenção da erosão», adiantou João Matos Fernandes.

Sublinhou a importância da gestão racional da água em regadio, através da instalação de sistemas mais eficientes de armazenamento, de transporte, de distribuição e de aplicação. «Os regadios devem, por isso, ser modernizados e integrarem redes inovadoras de monitorização e controlo de perdas de água».

O governante destacou igualmente «a maior eficiência de uso da água deve ser associada à possibilidade de aumentar a eficiência do uso dos fertilizantes, diminuindo desta forma as emissões de Gases com Efeito de Estufa. Esta sinergia entre adaptação e mitigação deve ser promovida e intensificada, indo ao encontro de uma política integrada em matéria de alterações climáticas».

«Este aspeto torna-se, ainda, mais relevante quando os dados preliminares do inventário nacional de emissões mostram uma subida das emissões provenientes do uso de fertilizantes», alertou, lembrando que «os cenários de alterações climáticas conduzem ainda à necessidade de se melhorar e selecionar as variedades melhor adaptadas a um clima mais severo e à substituição de algumas culturas por outras menos exigentes em água».

«É certo que as culturas terão, cada vez mais, de responder às novas condições, tanto ao nível da oportunidade da sua realização, como da tecnologia utilizada. As práticas que promovem a melhoria dos teores de matéria orgânica do solo são outros exemplos que apresentam vantagens sinérgicas, tanto em termos de adaptação, como mitigação, uma vez que evitam a erosão, melhoram a capacidade de retenção de água e simultaneamente constituem um sumidouro de carbono», acrescentou João Matos Fernandes.

Por fim, o ministro do Ambiente realçou ainda a importância da existência de boas práticas no setor pecuário, «seja através da redução de emissões de gases com efeito de estufa, nomeadamente pelo adequado tratamento de efluentes, seja através do uso racional da água e minimização dos impactos ambientais no meio envolvente».

O responsável da pasta do Ambiente terminou a sua intervenção, dizendo ao setor que este «pode contar com o Ministério do Ambiente para que juntos possamos prosseguir o caminho com vista à descarbonização profunda da economia. Este é o desígnio estratégico do Governo. Este é o caminho que juntos queremos trilhar. Temos apenas um planeta».

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip