2.ª MOSTRA TÉCNICA EM CEREAIS – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

2.ª MOSTRA TÉCNICA EM CEREAIS – APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

Por: Centro de Experimentação Agrícola do Instituto Politécnico de Beja

Decorreu no dia 17 de outubro de 2013, no auditório da Escola Superior Agrária de Beja, a apresentação pública dos resultados da 2.ª Mostra Técnica em Cereais. O evento realizou-se em complemento do Dia de Campo de 22 de maio de 2013 e teve como objetivo divulgar à comunidade agrícola os resultados obtidos nos diversos ensaios de campo instalados no ano agrícola 2012-2013, nos quais estiveram em estudo diversos fatores[1].

Este ano o evento contou com a presença do Eng. Paulo Cardoso da empresa Ceres que partilhou com os participantes a visão da indústria da moagem numa palestra intitulada “A Qualidade na Perspetiva da Indústria – Utilização da Produção Nacional”.

Os resultados foram apresentados por Manuel Patanita, responsável pelo Centro de Experimentação Agrícola da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja e por Manuela Varela consultora agrícola, parceiros que desenvolvem este projeto.

As principais conclusões dos estudos realizados no âmbito da 2ª Mostra Técnica em Cereais foram as seguintes:

- o sucesso de uma cultura (seara) depende de vários fatores, entre os quais o clima, o solo, a época de sementeira, a fertilização e o controlo dos inimigos da cultura, assumem particular destaque.

- a execução atempada das várias técnicas culturais e o seu ajustamento às exigências das plantas são fatores determinantes para o desenvolvimento da cultura, com efeito na produção e na qualidade do grão e, consequentemente, no rendimento do produtor.

- a aplicação de adubo de fundo nos cereais de outono/inverno parece-nos importante para o desenvolvimento inicial das plantas.

- a estratégia de realizar a primeira aplicação de adubo após a emergência das plantas, exige que aplicação não se realize para além das 3-4 folhas, sob a pena de comprometer de forma significativa o afilhamento.

- a fertilização dos cereais deverá ser realizada de acordo com as necessidades das plantas ao longo do seu ciclo cultural e tendo em conta a forma como decorre o ano agrícola, nomeadamente no que se refere à distribuição e volume da precipitação.

- o controlo de infestantes deve ser realizado, preferencialmente, quando estas se encontram na fase inicial de desenvolvimento, potenciando assim a eficácia dos produtos fitofarmacêuticos.

- no controlo de doenças, nomeadamente nas provocadas por fungos, o agricultor deverá atuar preventivamente ou ao aparecimento dos primeiros sintomas, de modo a aumentar a eficácia do tratamento e a proteção das plantas.

- a qualidade da semente e a eleição da variedade são fatores chave no sucesso de uma cultura. As características genéticas da variedade determinam o seu potencial produtivo e a sua qualidade industrial. A adequação da variedade aos objetivos produtivos e às características ecológicas do terreno de cultivo é determinante para a obtenção de elevados rendimentos.

 

Testemunhos

Manuela Varela, consultora agrícola, que em conjunto com o Centro de Experimentação Agrícola, tem desenvolvido os estudos, referiu que a 2ª Mostra Técnica em Cereais, tal como se verificou no ano anterior, teve como objetivo transmitir algum conhecimento que a experimentação em condições idênticas às dos agricultores poderia proporcionar. Para a realização destes ensaios tivemos a colaboração das empresas ligadas aos principais fatores de produção.

Nestes dois anos confirmou-se mais uma vez a variabilidade do clima, que pela sua imprevisibilidade já é uma “constante” que ninguém pode alterar, mas também verificámos que saber adaptar e aplicar os produtos em diferentes condições é muito importante para atingir as melhores produções e/ou qualidade do grão. Saber produzir bem vai ser obrigatório mais tarde ou mais cedo, pelo que é necessário que estejamos preparados.

Francisco Palma, Presidente da Associação de Agricultores do Baixo Alentejo, indicou que estas iniciativas são extremamente importantes para o setor dos cereais pois envolvem diretamente as instituições de ensino (Escola Superior Agrária de Beja), os fabricantes e as empresas distribuidoras locais dos fatores de produção (sementes, fitofármacos, adubos), os agricultores e as suas organizações. Assim, todos juntos numa verdadeira simbiose, faz-se a chamada transferência de conhecimento e de experiencias para que in loco se possa discutir, observar e comentar as diferentes variáveis (variedades de sementes + adubação + fitofármacos) em condições o mais próximo da realidade do cerealicultor.

Graças à dedicação e empenho de todos e com a liderança da Eng.ª Manuela Varela e do Centro de Experimentação Agrícola da Escola Superior Agrária de Beja, este evento já constitui o ponto mais alto do ano cerealífero em Portugal.

Luís Santa Maria, Subdiretor da Escola Superior Agrária de Beja, acrescentou que “no contexto atual de desenvolvimento e de redução da dependência externa relativamente ao abastecimento de cereais, é fundamental que os parceiros da fileira se conheçam, debatam os problemas e se coordenem na obtenção de resultados. A troca de informação e a procura de respostas face às expectativas de agricultores e industriais foi um dos temas mais em foco neste evento da 2ª Mostra Técnica em Cereais. Por outro lado, os resultados divulgados nesta sessão são de grande relevância, uma vez que disponibilizam ao agricultor uma informação integrada, desde o lançamento da semente à terra até ao produto final a utilizar pela indústria”.

Paulo Cardoso, representante da Moagem Ceres, referiu que a qualidade dos cereais na perspetiva da indústria é determinante. De nada vale desenvolver as melhores culturas, multiplicá-las, cultivá-las e colhê-las se o produto final não for adequado ao fim a que se destina. Uma colheita com elevado rendimento por hectare e superior resistência a doenças pode ser muito atrativa para o produtor mas não para o industrial que poderá estar incapacitado de a utilizar por diversas limitações que lhe são legalmente impostas, como por exemplo a segurança alimentar (micotoxinas, metais pesados, pesticidas). Tem faltado o esforço concertado dos diversos intervenientes na fileira agrícola (investigação, desenvolvimento, produção e indústria) de modo a que os resultados obtidos sejam economicamente viáveis para todos e para que em cada nova campanha se possa aplicar de forma consistente os desenvolvimentos da campanha anterior, numa perspetiva de melhoria contínua.

No caso dos cereais, especificamente no caso do trigo mole, temos observado com agrado ao longo dos últimos anos uma evolução muito positiva. Temos encontrado variedades com elevado potencial para a indústria, sobretudo trigos de força que podem substituir uma parte importante das nossas importações. A proximidade da produção é fundamental para o controlo eficaz da cadeia em termos de rastreabilidade, outro dos critérios determinantes para a indústria e que pode ser uma mais-valia decisiva para a escolha da produção nacional. Há hoje claramente uma preocupação em ouvir todas as partes, em perceber quais os requisitos da indústria, em fazer bem para depois replicar. A Mostra Técnica em Cereais promovida pela Escola Superior Agrária de Beja é disso um exemplo a louvar e que deverá servir como uma alavanca para mobilizar a fileira. O trabalho desenvolvido com as diversas entidades envolvidas é de elevada qualidade e as conclusões inerentes são muito importantes para o desenvolvimento da atividade cerealífera. A partilha de resultados, a divulgação de conhecimentos e o debate de ideias entre os diversos setores da fileira que ocorreu na apresentação de resultados no passado dia 17 de outubro foi um excelente prenúncio para o futuro. Continuem o bom trabalho… nós agradecemos!

 


[1]    Sobre o Dia de Campo da 2.ª Mostra Técnica em Cereais, realizado no dia 22 de maio de 2013, poderá ler-se o artigo publicado no n.º 8 (3.º trimestre) da Agrotec, Revista Técnico-Científica Agrícola (pp. 56-57).

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