Vinhos de Lisboa: a marca que também faz história na viticultura do país

Desde 1960 com o nome de Oeste, havia de obter o título de região vitivinícola em 1994. Falamos da Comissão Vitivinícola da Região de Lisboa (CVR Lisboa) - constituída em 2008 como tal -, e que conta uma longa história na viticultura do país, com as tradicionais castas portuguesas, e onde se produzem diversas variedades de vinhos, graças à diversidade de relevos e microclimas concentrados em pequenas zonas. Em entrevista ao Agronegócios, o presidente da direção da estrutura, Vasco d’Avillez, fala do crescimento da região que conta com 1500 famílias produtoras e gera, por ano, 1 milhão de hectolitros de vinho, dos quais 30% são certificados. A exportação do vinho certificado representa 70% em mercados como Brasil, Angola, norte da Europa e Rússia. Para o responsável, «a qualidade dos vinhos» é a mais-valia de uma região que abrange nove Denominações de Origem Controlada (DOC): Colares, Carcavelos e Bucelas (zona sul, próximo de Lisboa), Alenquer, Arruda dos Vinhos, Torres Vedras, Lourinhã e Óbidos (no centro) e Encostas d’Aire (a norte).

vinhas

Agronegócios: Em primeiro lugar gostava de perceber qual tem sido a evolução da CVR Lisboa na última década. Que mudanças fundamentais se deram em toda a região abrangida?

Vasco d'Avillez: Esta região começa a impor-se, concretamente, há dez anos. A certa altura, a região, que tinha começado por se chamar Alta Estremadura, começou a englobar a DOC como Óbidos, Alenquer, Torres Vedras, e depois passou a Estremadura. Em 2007 absorve Colares, Bucelas e Carcavelos. E juntam-se todos. E aí mudaram de nome para a designação de Lisboa.

AN: Tendo em conta as mudanças de que fala, foi uma década de crescimento gradual?

VDA: Sim, sem dúvida.

AN: Mas porque não se fala tanto da região de Lisboa em termos de vinhos?

VDA: É uma boa pergunta. Não é, certamente, pela qualidade, que a temos. E com uma vantagem: o binómio qualidade/preço, e mais do que em qualquer outra região. Os portugueses, muitas vezes, pensavam: «vinho é no interior de Portugal, em Lisboa não há vinho». E esta ideia ainda prevalece. A região de Lisboa (antes Oeste, depois designada Estremadura) sempre foi um produtor enorme. Produzimos, por ano, 1 milhão de hectolitros, em toda a região. E se olharmos para o mapa, Portugal todo produz 6,5 e tem 14 regiões. Há uma (região) que produz mais que a CVR Lisboa, já que é maior e tem mais videiras, o Douro. Depois entre Alentejo e Lisboa, vamos alternando, dependendo das condições climatéricas. E já foi muito maior, porque a região de Lisboa produz igualmente uma quantidade enorme de pêra rocha e maçã em terrenos de onde foi tirada vinha. Tinha um valor baixo, exportava-se a granel, os monopólios da Suécia e da Noruega gostavam imenso já que, tal como nós, não conseguiram aderir ao mercado comum (anos 50) e estávamos na Associação Europeia de Comércio Livre (EFTA), além das exportações para o mundo português (Angola e Moçambique, sobretudo). Depois, começa a haver por parte do público em geral uma exigência (nos anos 80). Em 1983 juntaram-se duas empresas gigantes (a José Maria da Fonseca e a Sogrape) e abriram um caminho novo para resolver o problema da pouca qualidade no vinho português. E fizeram um trabalho junto dos produtores para melhoria do setor. E mudaram o paradigma! Em vez de se pagar o vinho pelo teor de álcool, passou a ser importante a qualidade do vinho a vários níveis, como por exemplo, a opinião de enólogos, a forma como as uvas maturam, como foram apanhadas, o modo como eram entregues nas adegas, etc.

AN: Quantos produtores existem atualmente na região?

VDA: 185. Destes, 30 fazem lotes do seu vinho e engarrafam-no e vendem-no com as suas marcas. Os outros vendem às cooperativas. Mas produtores de uva são 1500 famílias e um total de 15 cooperativas em laboração. Relembro que as regiões só se ocupam de vinho certificado, regional e DOC, mas o vinho quando é produzido, é vinho, e nem todo é certificado. No Alentejo há 90% de vinho certificado e na Região de Lisboa ronda os 30%, ou seja, 70% fica em vinho de mesa.

vasco avillez

Vasco d'Avillez

AN: Porquê?

VDA: Porque os produtores não querem.

AN: Qual é o orçamento anual da CVR Lisboa?

VDA: Meio milhão de euros.

AN: Serve para quê?

VDA: Para certificação, essencialmente.

AN: Já me disse que a região produz, por ano, 1 milhão de hectolitros de vinho. Isso representa quanto?

VDA: Representa 60 milhões de euros em vinho certificado, por ano, sendo que 70% é exportado.

Exportação

AN: Quais são os vossos mercados exportadores por excelência?

VDA: Brasil e Angola são os nossos maiores mercados. E, por isso mesmo, são mercados onde temos de ter muita atenção, ao nível da legislação, que volta e meia, pode mudar. Temos outros mercados mais fiáveis como o norte da Europa (Finlândia, Suécia e Noruega). Os vinhos de Lisboa, por exemplo, são número 1 na Suécia e na Noruega. Mas EUA e Rússia, Reino Unido e Europa também são mercados importantes. Moçambique, Angola e África do Sul são outros três nichos em que estamos também apostar.

AN: Como tem o Governo apoiado o setor vitivinícola, tendo em conta o facto de esta tutela em concreto ter dado um destaque particular à Agricultura no geral (onde cabe a Vitivinicultura)?

VDA: Durante toda a crise temos crescido 10% ao ano. Mas, de facto, é uma bandeira, em particular da ministra Assunção Cristas. Falo apenas no vinho, onde a ministra da Agricultura tem tido um papel de incentivo à promoção e à venda. Há um reconhecimento do setor nesse aspeto, sem desprimor de nenhuma região, porque é bom não esquecer que os vinhos têm um contributo fundamental para a economia do país através das exportações.

AN: Que radiografia faz do setor vitivinícola e quais os principais entraves que os viticultores sentem?

VDA: Sobretudo a venda de todo o seu stock, que nem sempre acontece.

AN: Com o Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) também há muitos apoios…

VDA: Há até demais. No que respeita à promoção, temos de ter em conta que é essencial gerir o dinheiro o melhor possível. E neste PDR penso que há em demasia.

AN: Quais são as perspetivas para a atual campanha (2015/2016)?

VDA: 110 milhões de litros. Em 2014 produzimos um pouco mais de 86 milhões de litros, sendo que a DOC que produz mais é Alenquer. E a que precisa de mais ajudas é a Lourinhã, sobretudo ao nível da promoção. 

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